O agronegócio brasileiro é um dos setores mais dinâmicos e estratégicos da economia nacional, apontado como responsável, inclusive, pelos números positivos do PIB alcançados no primeiro trimestre de 2025 – avanço de 12,2% em comparação ao mesmo período em 2024, segundo o IBGE. Ainda assim, enfrenta uma equação difícil: enquanto a demanda global por alimentos cresce e o Brasil mantém protagonismo no campo, muitos produtores e empresas esbarram em entraves gerenciais que limitam sua capacidade de investir, inovar e crescer.
Boa parte desses obstáculos é conhecida. O crédito rural, apesar de essencial, continua envolto em burocracias, taxas de juros elevadas, com a taxa Selic projetada em 13,5% para 2025, e políticas públicas que nem sempre acompanham a realidade do setor. Atualmente, por exemplo, mudanças relacionadas aos Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) entraram na pauta do governo e do congresso, como forma de aumentar a arrecadação do poder público, o que pode afetar os produtores e investidores do setor.
São fatores que, muitas vezes, fogem ao controle dos produtores. A gestão financeira, no entanto, é o que apoia os gestores a encarar de frente os desafios internos. Quando bem endereçados, podem fazer toda a diferença.
Ainda é comum encontrar empresas operando sem um planejamento financeiro estratégico estruturado. Em muitas delas, especialmente nas de perfil familiar, os controles ainda são informais, e as decisões são tomadas mais com base na experiência do que em dados. Isso dificulta o acesso a crédito, compromete a previsibilidade do caixa e limita a capacidade de investir com segurança, podendo resultar, em casos mais graves, até em pedidos de recuperação judicial (RJ). Segundo a Serasa, em 2024, os números de solicitações de RJs abertas no agro dobraram em relação a 2023, saltando de 523 para 1.272.
Para mudar esse panorama, é preciso “cautela e gestão no agro”, termos destacados pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) para este setor em 2025. De forma prática, é preciso adotar ações mais robustas de planejamento e controle financeiro, com análises periódicas de fluxo de caixa, margens de lucratividade e estrutura de custos. Além disso, também se faz necessário integrar a gestão financeira à estratégia do negócio, buscando a compreensão sobre onde estão as oportunidades reais de investimento e quais riscos precisam ser mitigados.
A análise sobre gastos futuros também não pode ficar de fora dessa equação. Por exemplo, mesmo com caixa positivo, nem sempre se fará necessário o investimento em novos maquinários, ou a compra de novas propriedades, aumento de equipes, ou outras questões estratégicas. A cautela se faz presente ao balancear aonde se quer chegar com o que é factível de forma financeira e operacional.
A boa notícia é que a tecnologia pode ser uma aliada nesse processo. Soluções digitais permitem rastrear custos de produção com precisão, monitorar margens em tempo real e gerar dados e informações que ajudam na tomada de decisão. Sistemas integrados de gestão (ERPs), plataformas de agricultura digital e ferramentas de BI têm potencial para transformar o modo como as empresas do agro se relacionam com seus números.
Esse movimento, no entanto, exige uma mudança de mentalidade. Será cada vez mais necessário que o produtor veja a gestão financeira não como uma etapa burocrática, mas como uma ferramenta estratégica de geração de valor. Num cenário de margens cada vez mais apertadas e de volatilidade nos mercados, quem domina os próprios custos, entende seus indicadores e planeja com inteligência está sempre um passo à frente.
Superar os gargalos externos ao setor é importante, mas, enquanto eles persistem, a gestão interna deve ser a alavanca que move o agro rumo a um novo patamar de competitividade e sustentabilidade.