A realidade atual impõe desafios significativos às empresas, que vão muito além do cenário macroeconômico. A principal dor enfrentada por muitos negócios hoje é a pressão constante sobre as margens de rentabilidade e a dificuldade crescente de repassar aumentos de custos ao consumidor final.
Setores diversos — do varejo à indústria de bens de consumo — têm encontrado barreiras para reajustar preços, mesmo após anos de inflação acumulada. Nesse contexto, preservar o EBITDA tornou-se prioridade absoluta. Em muitos casos, o foco na geração de caixa vem como consequência direta da necessidade de manter uma rentabilidade mínima para sustentar a operação.
Neste cenário, a gestão inteligente de gastos assume papel de protagonista. A busca por eficiência não se traduz mais em cortes lineares e indiscriminados. Ela exige clareza estratégica, disciplina operacional e ferramentas que permitam decisões orientadas por evidências.
Reduzir gastos, por si só, não é estratégia. O diferencial está na forma como as empresas estruturam o processo de decisão sobre despesas: quais devem ser mantidas, quais precisam ser aceleradas e quais devem ser transformadas ou eliminadas. Essa priorização só é possível com liderança engajada, critérios claros de valor agregado e uma cultura de responsabilidade compartilhada baseada em entregas e metas.
Tecnologia como resposta à escassez de mão de obra
O uso da tecnologia na gestão de despesas deve ser visto não apenas como um meio de ganho de produtividade, mas como resposta concreta à crescente escassez de mão de obra qualificada, que já se manifesta em diversas regiões e setores.
Antes de pensar em soluções sofisticadas como machine learning ou analytics avançado, muitas empresas precisam explorar com profundidade o que as camadas mais básicas de automação já oferecem: RPA, workflows, automação de relatórios, self-checkouts, totens de autoatendimento e plataformas integradas de processos. Essas soluções têm sido efetivas na liberação de tempo de equipes operacionais, que podem ser realocadas para atividades com maior valor agregado.
Em um ambiente em que os recursos humanos são escassos e caros, redirecionar pessoas de tarefas repetitivas para frentes estratégicas pode determinar a capacidade da empresa de continuar crescendo. Exemplos concretos — como o uso de máquinas para montagem de embalagens ou ferramentas para automatizar reembolsos e auditorias — mostram que a automação não é tendência futura, mas necessidade atual.
Transformar a gestão de gastos em diferencial competitivo requer mudança de mentalidade. E ela começa no topo. A liderança precisa não apenas endossar as iniciativas de eficiência, mas participar ativamente do processo — promovendo transparência nas decisões, reforçando os critérios de alocação de recursos e valorizando os ganhos de produtividade alcançados.
Criar uma cultura de responsabilidade financeira não significa implantar controles excessivos ou burocratizar a operação. Significa deixar claro que cada real gasto precisa gerar retorno mensurável — seja em receita, em produtividade, em fidelização de clientes ou em mitigação de riscos.
Empresas que conseguem mobilizar todas as áreas em torno dessa lógica constroem um ecossistema interno de disciplina, cooperação e autonomia responsável. E isso, em momentos de incerteza, faz toda a diferença.
Diante de um cenário onde o crédito está mais caro, as margens estão comprimidas e as previsões seguem conservadoras, a forma como uma empresa gerencia seus recursos tornou-se decisiva. Mais do que cortar, é preciso decidir com precisão. Mais do que sobreviver, é necessário transformar disciplina financeira em plataforma de crescimento.
Em um ambiente competitivo e instável, a inteligência na gestão de gastos deixou de ser diferencial. Hoje, ela é pré-requisito para continuidade, relevância e liderança nos negócios.
* Breno Guedes é diretor e sócio da Falconi