Custos elevados, obsolescência tecnológica e um consumidor cada vez mais exigente colocam o setor de alimentos e bebidas diante de um ponto de inflexão. Em um ambiente de margens pressionadas e transformação acelerada, torna-se urgente adotar uma gestão centrada em dados, processos robustos, tecnologias e equipes capacitadas. A busca por competitividade e sustentabilidade exige mais do que respostas pontuais: requer uma revisão estrutural da forma como o setor opera e gera valor.
Segundo dados da ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), o setor faturou mais de R$ 1 trilhão em 2023, consolidando-se como um dos pilares da economia brasileira. No entanto, o desempenho robusto do segmento não isenta as empresas das pressões que afetam toda a cadeia: elevação de custos logísticos e energéticos, volatilidade nos insumos, aumento das exigências regulatórias e mudanças nos hábitos de consumo são apenas alguns dos fatores que desafiam a eficiência operacional tradicional.
Eficiência não é mais vantagem, é ponto de partida
Frente a esse cenário, empresas líderes estão reconfigurando sua gestão para garantir excelência operacional de forma consistente. Modelos como Lean Manufacturing, Six Sigma e WCM (World Class Manufacturing) vêm sendo aplicados para padronizar processos, reduzir desperdícios e ampliar a produtividade com foco em melhoria contínua.
A lógica é clara: em mercados de alta competitividade, operar com eficiência deixou de ser diferencial e passou a ser requisito mínimo. A estruturação de rotinas críticas, definição de padrões, mapeamento de perdas e estabelecimento de indicadores de desempenho são práticas que, quando sustentadas pela liderança, se traduzem em ganhos tangíveis de margem, qualidade e confiabilidade.
Mas excelência operacional, sozinha, não é suficiente. O setor de alimentos e bebidas vem incorporando tecnologias que ampliam o poder de análise, decisão e automação ao longo de toda a cadeia produtiva. Ferramentas de inteligência artificial, machine learning, controle em tempo real e automação avançada vêm sendo utilizadas para prever variações de demanda, otimizar uso de insumos, reduzir perdas e antecipar falhas de processo.
Um levantamento da FGV Agro mostra que as empresas que adotam soluções de digitalização e automação nas áreas produtivas e logísticas conseguem reduzir até 18% de seus custos operacionais em ciclos de 12 a 24 meses — principalmente em setores de alto volume e perecibilidade como alimentos e bebidas.
No entanto, a simples adoção de tecnologia não garante resultado. Ela precisa estar integrada a processos já otimizados, com clareza de objetivos e alinhamento entre áreas. Tecnologias colocadas sobre estruturas desorganizadas tendem a amplificar gargalos em vez de solucioná-los.
Pessoas: elo essencial da transformação
Nenhuma mudança organizacional se sustenta sem o fator humano. O setor enfrenta, hoje, não apenas desafios operacionais e tecnológicos, mas também de qualificação. O gap de competências digitais e analíticas em equipes operacionais e de gestão ainda é um limitador relevante à escala de transformação digital.
É responsabilidade da liderança promover um ambiente onde a capacitação técnica, a cultura de dados e a orientação a desempenho sejam valorizadas e estimuladas. Isso requer não só investimentos em capacitação, mas também um discurso claro, coerente e constante sobre o propósito e os ganhos esperados com a jornada de excelência.
Transformações bem-sucedidas compartilham um ponto comum: a liderança ativa e presente. Os executivos do setor têm papel decisivo ao comunicar visão, definir prioridades, promover accountability e garantir que as práticas de gestão e tecnologia não fiquem restritas a iniciativas isoladas.
Empresas que constroem uma cultura de excelência operacional com viés analítico e inovação contínua posicionam-se melhor para enfrentar ciclos adversos, responder com velocidade às mudanças do mercado e capturar oportunidades com mais consistência.
Diante de um cenário cada vez mais pressionado por custos, exigências tecnológicas e transformação no comportamento do consumidor, a combinação entre processos robustos, tecnologias e equipes capacitadas não é mais opcional — é o caminho necessário para sustentar resultados e crescer com consistência.
A indústria de alimentos e bebidas que adotar uma abordagem integrada entre eficiência, inovação e gestão orientada por dados estará não apenas respondendo ao presente, mas construindo as bases da sua relevância futura.
* Por Gabriel Rodrigues, diretor da operação da Falconi nos Estados Unidos