Os clubes de futebol brasileiros enfrentam um jogo difícil quando o assunto é gestão. Por estarem diretamente conectados a uma das maiores paixões do brasileiro, e pelo formato de governança estabelecido na maioria das associações, muitos clubes optam por focar na performance anual, ao invés de definirem um planejamento que garanta resultados não só no curto prazo, mas que também possibilite crescimento e evolução, gerando sustentabilidade e possibilitando resultados consistentes a médio e longo prazo.
Não são poucos os times com dívidas altíssimas que, em momentos mais desafiadores, aumentam seus gastos na aposta de gerar uma resposta rápida às suas torcidas, sem ponderar os riscos e impactos que estas ações podem gerar em um futuro imediato. Dentro desse contexto, falta um plano estratégico que direcione as ações e prioridades dos clubes. Há dificuldade em equilibrar resultados financeiros e performance desportiva. Por outro lado, permite-se que o modelo de governança traga para a gestão influências sobre o próximo ciclo de eleição dos clubes, o que deixa ainda mais difícil a tomada ágil e técnica de decisões. Mais ainda: não há um planejamento do elenco profissional e de base com visão financeira e com uso de dados de desempenho.
Ainda há inúmeros outros pontos a considerar. Como exemplo, o fato de um alto investimento em um único jogador poder afetar diretamente as finanças de um clube por anos, visto que os contratos têm usualmente um período mínimo de dois a três anos com valores fixos. Se este jogador não ‘performar’ dentro do esperado, serão desembolsos significativos com baixa probabilidade de retorno desportivo ou financeiro.
Por estas e outras, é urgente que os times passem a tomar decisões mais assertivas, baseadas em fatos, dados e no gerenciamento de seus gastos e investimentos. Um dos fatores que ajuda a alterar tal cenário é dar a justa dimensão da enormidade do problema às lideranças dos clubes. É necessário que os dirigentes compreendam que, em um cenário de altas dívidas, não se planejar pode acarretar problemas sérios de caixa, levando ao atraso na folha de pagamentos, perda de competitividade do time, e, até mesmo, inviabilidade financeira do clube.
Outro ponto de mudança consiste em olhar o negócio de forma integrada, sem correr o risco de que departamentos tomem decisões isoladas que comprometam a performance do clube – por falta de uma visão e alinhamento de prioridades.
Estratégia como prioridade
Quando há o engajamento de uma liderança forte, o processo de gestão ocorre de forma mais fluida, constituindo um terreno fértil para que diversas iniciativas ocorram. Entre elas, destacam-se a elaboração de um planejamento estratégico e seu desdobramento por meio de objetivos específicos, conectados às metas e gestão desportiva e orçamentária; potencialização das linhas de receitas atuais do futebol e das demais modalidades esportivas, a fim de aumentar o faturamento via aprimoramento e rentabilização da experiência do torcedor; gestão do elenco profissional e amador integrada, acompanhando o funil de investimento nas categorias de base até uma eventual comercialização de atletas; adoção de uma estrutura organizacional eficiente, tornando-a mais leve, ágil e profissional; além de diversas outras medidas que potencializam o resultado imediato e futuro dos clubes.
A evolução da maturidade da gestão no futebol, como nos demais segmentos da economia, traz um impacto significativo nos resultados tanto financeiros quanto desportivos. Dessa forma, os clubes que não entenderem o momento de transformação pelo qual o mercado passa podem perder uma janela importante de investimentos que se abriu no futebol brasileiro neste momento, impactando diretamente em seu futuro, como já pode ser notado com diversos clubes do país no passado. Está na hora dos clubes escolherem em qual campo querem jogar.
Com o uso de metodologias específicas e ferramentas de gestão, os clubes e o futebol brasileiro como um todo poderão mais e mais alcançar resultados positivos, a partir da profissionalização – e por que não dizer, disrupção – deste segmento que tanto mexe com a emoção da população.
Frederico Gondim é sócio da Falconi, a maior consultoria brasileira de gestão empresarial e de pessoas. Na carteira de negócios pela qual é responsável na Falconi, vale destacar a atuação em segmento que vem crescentemente buscando a profissionalização e a adoção de práticas de gestão que garantam a sustentabilidade e a transparência dos negócios: o futebol. Entre os clientes que atende está o Corinthians.