O setor brasileiro de seguros se prepara para um crescimento de 10% em 2025, estima a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). A projeção vem ancorada por mudanças no comportamento dos clientes, o envelhecimento da população e o impacto das crises climáticas no país. Mas para conseguir absorver essa demanda, as empresas terão que realizar uma abordagem centrada no cliente e desenvolver soluções eficientes que conciliem tecnologia e sustentabilidade.
Os fatores naturais também estão mudando os rumos do mercado de seguros. Fenômenos extremos, como enchentes, secas e queimadas, aumentam a frequência e a gravidade dos sinistros, elevando os custos do serviço. No Brasil, eventos climáticos impactam o setor rural, patrimonial e de automóveis, tornando a precificação de apólices mais complexa.
Essa transformação é marcada pelo aumento da longevidade da população brasileira, que usufrui de seguros, especialmente nos ramos de saúde, vida e previdência. Com um número crescente de idosos, as seguradoras precisarão desenvolver ofertas mais acessíveis e sustentáveis, equilibrando o aumento da demanda por atendimentos médicos e aposentadorias mais longas com a viabilidade financeira desses produtos.
Além disso, há uma mudança no perfil do consumidor, que busca seguros mais personalizados e flexíveis. Isso exige investimentos em análise de dados e inteligência artificial para entender as necessidades desse público e oferecer soluções customizadas.
Um setor que precisa se adequar às novas demandas
Inovação, clientes e sustentabilidade serão o centro das abordagens das empresas prontas a se adaptar às necessidades do mercado de seguros. Para mitigar riscos dos fenômenos naturais, por exemplo, o setor precisará investir em tecnologia, como o uso de inteligência artificial, big data e machine learning para prever eventos e melhorar a precificação dos produtos.
Essa estratégia tecnológica tem um motivo: todo seguro é construído com base em projeções sobre a probabilidade de determinados eventos ocorrerem. Com o avanço do tempo e o acúmulo de dados, esses modelos se tornam mais sofisticados, permitindo uma precificação mais ajustada e uma previsibilidade maior. Portanto, diante da crescente frequência de fenômenos climáticos extremos, a tendência é que a capacidade de antecipação dos riscos se refine ainda mais.
Com o uso massivo de tecnologia, as empresas conseguem aperfeiçoar o processo de desenvolvimento de novos produtos, com destaque para o seguro paramétrico. Esse modelo, que vem ganhando espaço principalmente no agronegócio, funciona com base em parâmetros objetivos previamente estabelecidos no contrato. Por exemplo, um produtor rural pode contratar um seguro para um determinado nível de precipitação e ter a certeza de que será coberto caso tenha algum dano dentro desse limite estipulado.
A aplicação de IoT (internet das coisas), alinhada a estratégia de dados, também deixa as seguradoras mais eficientes na hora de avaliar riscos – o que traz impactos diretos na precificação dos seguros e na redução de custos. Um dos principais avanços está na mitigação da assimetria de informações. Até então, os modelos de precificação classificam os segurados com base em médias estatísticas, considerando fatores como faixa etária, localização e perfil socioeconômico. No entanto, dispositivos IoT permitem uma análise individualizada, oferecendo uma visão mais precisa do comportamento de cada usuário.
No setor de seguros automotivos, por exemplo, a tecnologia IoT possibilita monitorar diretamente o estilo de condução de cada motorista, em vez de categorizá-los apenas por dados demográficos genéricos. Dessa forma, um condutor prudente pode ter prêmios mais baixos, enquanto aqueles que assumem mais riscos podem ter um custo maior.
Com a crescente granularidade das informações coletadas, a precificação dos seguros se torna mais sofisticada. Isso não significa, necessariamente, valores mais baixos para todos os consumidores, mas sim um cálculo mais preciso, alinhado ao perfil real de risco de cada segurado. A tendência é que a IoT continue a expandir seu papel na personalização dos seguros, tornando-os mais transparentes e eficientes para seguradoras e clientes.
Outro movimento importante é a ampliação das parcerias B2B2C, em que empresas oferecem seguros diretamente a suas bases de clientes por meio de plataformas digitais. A segmentação e a gestão de performance comercial dos canais de distribuição são estratégias essenciais para impulsionar as vendas. A implantação de CRM (Customer Relationship Management), a automatização de cotações e a conexão com sistemas bancários são ferramentas fundamentais para potencializar esses canais.
Com faturamento superior a R$ 180 bilhões anuais em prêmios emitidos, o setor tem enfrentado oscilações nos últimos anos, mas com a integração entre tecnologia e gestão eficiente, as seguradoras têm a oportunidade de não apenas se adaptar às mudanças do mercado, mas também liderar um setor mais dinâmico, seguro e orientado para o cliente. A inovação, portanto, não é apenas uma alternativa para enfrentar desafios, mas a chave para impulsionar um novo ciclo de crescimento sustentável e competitivo.
* Daniel Oliveira é VP da UN Energia, Tecnologia e Serviços Financeiros da Falconi