A pandemia do Covid-19 iniciou há mais de um ano. Agora, já é possível fazer uma análise melhor sobre o que houve ao redor do globo. As empresas e as pessoas precisaram se reinventar diante das restrições do isolamento.
No entanto, desde os primeiros impactos, foi possível perceber que uma recuperação de forma heterogênea foi iniciada. A retomada aconteceu em diferentes formatos, de acordo com o porte ou segmento/setor de atuação das empresas, bem como entre os consumidores de classes sociais distintas.
Os efeitos da pandemia no mundo
Estima-se que as consequências do coronavírus irão gerar a pior crise dos últimos 100 anos, afetando a economia global em cerca de U$ 90 trilhões. Mais do que isso, as consequências irão gerar impactos que devem refletir no longo prazo, sendo que para alguns países a crise econômica será mais profunda e duradoura.
O impacto da pandemia ainda teve repercussões no mercado financeiro, com redução da confiança e do crédito — consequências que afetam empresas de todos os portes. De acordo com pesquisas do Federal Reserve Bank de New York¹, cerca de 50% das pequenas empresas estão com menos de 15 dias de reserva de caixa.
Os desafios das organizações em meio à pandemia
O contexto gerou também impactos heterogêneos nas empresas. De acordo com estudo desenvolvido pela Omie², uma plataforma de ERP, as empresas do setor de saúde apresentaram um aumento de 80% no faturamento. Além dele, o setor imobiliário também apresentou crescimento de dez vezes.
Na outra ponta, empresas das áreas de artes, cultura e esporte tiveram uma redução de 76,1% no faturamento médio. Enquanto isso, a construção civil teve uma queda de 74,6%, seguido pelo transporte aéreo, com redução de 60,9%.
Outros 3 fatores também sofreram forte influência da pandemia de Covid-19. Vejamos quais são eles:
1. Redução de renda popular
De acordo com a pesquisa realizada pelo Datafolha³, quase metade dos brasileiros teve sua renda familiar reduzida pela pandemia – aproximadamente 46%. Além disso, outros 45% afirmam que a renda se manteve igual, enquanto 9% tiveram um aumento do rendimento.
2. Fechamento de empresas
Na primeira quinzena de junho de 2020, 1,3 milhão de empresas estavam com suas atividades encerradas – destas 39,4% citavam a pandemia como causa, de acordo com a Pesquisa Pulso Empresa4. Esse impacto foi sentido em todos os setores, estando 40,9% entre as empresas relacionadas ao comércio, 39,4% nas de serviços, 37,0% na construção e 35,1% na indústria.
3. Queda nas vendas
Na mesma pesquisa também foram apresentados os números relacionados à queda nas vendas ou nos serviços comercializados. Para 46,8% das empresas, houve redução significativa, enquanto 26,9% disseram ter sentido efeito pequeno ou inexistente. Já 26,1% relataram aumento nas vendas.
E como as empresas podem crescer a partir do que aconteceu?
Os efeitos da pandemia exigiram respostas imediatas das organizações. Foram necessárias transformações, como a adoção de plataformas digitais de gerenciamento, ou ainda o uso de plataformas online de treinamento, que resultaram em ganhos ao permitir melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mas, ainda há algumas recomendações que as empresas podem colocar em prática para lidar com incertezas futuras:
Definir equipes de tomada de decisões de emergência
É importante definir equipes de tomada de decisão para assuntos urgentes e temporários independente do porte das empresas, pois vale lembrar daquele velho ditado onde falamos que “duas cabeças pensam melhor do que uma”. Este comitê também é o porta-voz da empresa, tanto para os colaboradores, quanto para a mídia e autoridades externas – como órgãos de saúde que podem requerer informações durante a pandemia.
Desenvolver um mecanismo positivo de comunicação e documentos padronizados
O sistema de informações é usado para coletar, transmitir e analisar informações da pandemia, emitindo avisos a colaboradores e parceiros da empresa. O objetivo é fortalecer o gerenciamento de informações, evitando uma visão negativa de negligência.
O mecanismo de comunicação pode ser feito no ambiente digital por meio de plataformas que integrem todas as equipes da empresa. Inclusive, é interessante notar como a crise de COVID-19 acelerou a transformação digital em diferentes empresas. Isso cria um cenário de oportunidades e quem consegue aproveitar vai sair da pandemia fortalecido.
Manter o bem-estar físico e mental dos colaboradores
A saúde mental dos colaboradores é um tema que nunca esteve tão em alta. Após um ano e meio marcado pela maior crise sanitária, cresceu a preocupação das empresas com seus colaboradores, o que reflete na busca por soluções que cuidem das pessoas de maneira completa – física e mental.
Portanto, um horário de trabalho flexível com o suporte de tecnologias é a primeira recomendação, além de pensarmos também em novos modelos de trabalho híbridos. Mas, além disso, a empresa pode definir um sistema de monitoramento de saúde dos colaboradores que estão no formato remoto.
Para as que precisam manter o formato presencial, é essencial garantir a segurança de ambientes, limpando e desinfetando com rigor os locais. Outro ponto importante é o fortalecimento da conscientização da educação sobre segurança em pandemias baseadas em fatos.
Desenvolver planos de resposta a riscos da cadeia logística de suprimentos
Na gestão de estoques, é importante as organizações considerarem a otimização dos seus ciclos de produtos, considerando os efeitos causados pelo bloqueio de consumo, pelo shortage de insumos, o aumento de custos financeiros associados e a pressão no fluxo de caixa. Junto a isso, em setores com longos ciclos de produção, as empresas precisam se preparar com antecedência para a retomada do consumo com a redução da pandemia. Lembremos também que a maioria das cadeias de suprimentos foi muito afetada e ainda demorará tempo para recuperar e isso já está causando falta de diversos itens e insumos, gerando inclusive uma pressão inflacionária pelo lado da oferta, que deverá ser uma dor de cabeça por um tempo.
Incentivar as práticas de ESG nas empresas
É importante a divulgação adequada de informações corporativas e a implementação de responsabilidade social corporativa nos setores ambiental, social, econômico e de estabilidade de funcionários, assim como coordenar relações com a comunidade e fornecedores.
As empresas que adotam tais medidas, que – pensemos nós – são um caminho mandatório para construirmos (ou até viabilizarmos) o futuro, conseguem alcançar uma marca mais forte, que poderá ser uma referência para indústria e sociedade. Não teremos futuro como sociedade se não trilharmos em conjunto o caminho de ESG.
Criação de um plano de gestão de dados, alinhado à LGPD
Com o crescimento exponencial da utilização de dados pessoais, especialmente com o maior uso dos ambientes virtuais, é essencial que as empresas estabeleçam bons mecanismos de gestão de dados, alinhados à LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados. Nele, devem estar incluídos os colaboradores, terceiros, fornecedores e parceiros.
Para isso, é essencial que as empresas protejam a confidencialidade de dados pessoais e dados preliminares dos colaboradores realizando, por exemplo, o controle ao acesso, à transmissão e ao uso desses dados.
Ajustes nos orçamentos
O ideal é que as empresas fiquem atentas ao fluxo de caixa, ajustando o cronograma de recebimentos e pagamentos para garantir recursos de acordo com o ritmo de fornecedores e planos de trabalho. E, mais do que isso, também é importante prestar atenção à situação de importações e exportações no comércio internacional, verificando a necessidade de busca de fornecedores alternativos.
Para isso, as empresas podem desenvolver um plano de cenário de emergência para fornecedores essenciais. Isso inclui planos de hedge usando contratos futuros, comércio internacional e transporte, além de fornecedores alternativos.
Melhoria dos mecanismos de gestão de risco
É importante as empresas estabelecerem ou melhorarem seus sistemas de gestão de risco, identificando os riscos-chave e desenvolvendo planos para mitigá-los. Para isso, podem ser desenvolvidos manuais relevantes e testes prévios baseados em cenários de emergência, além da realização de exercícios de simulações de emergência ou treinamentos. Fortalecer o sistema de gestão de riscos é tão importante quanto lidar com os eventos negativos.
Veja como 4 empresas de segmentos distintos se reinventaram, na prática:
1. Construção civil
Uma empresa de engenharia desenvolveu a campanha #FiqueEmCasa, preparando os canais digitais para que a compra de apartamentos e o processo de documentação fossem feitos totalmente online. Como resultado, a companhia apresentou um aumento de 28% em suas vendas, em comparação aos três primeiros meses do ano anterior.
2. Aplicativo de serviços
Para que os 1,5 milhões de profissionais cadastrados em um aplicativo de serviços pudessem continuar trabalhando, a startup lançou um serviço remoto – uma nova plataforma que possibilitou a contratação por vídeo ou ligação. O serviço foi uma forma de continuar ajudando clientes a resolverem pequenos problemas domésticos, assim como ajudar profissionais.
3. Varejo de roupas
Com as lojas físicas fechadas, os 600 funcionários de uma marca de roupas masculinas passaram a atender no canal exclusivo online da marca. A ferramenta fez uso de inteligência artificial e possibilitou conversas diretas por SMS, Whatsapp, Facebook ou e-mail.
4. Empresa de logística
Especializada em entregas de e-commerce, a empresa desenvolveu um aplicativo que permitiu a confirmação do recebimento da mercadoria por comando de voz, sem que o cliente tenha contato com o entregador. Com isso, no momento da entrega o sistema é acionado de uma distância segura.
Em um cenário de instabilidade econômica, é natural que as empresas pensem em soluções para tentar evitar a quebra de seus negócios. Recuar é uma medida válida, mas a longo prazo, pode ser um entrave. É preciso readaptar a empresa à nova realidade e buscar alternativas de crescimento e inovação, aproveitando as oportunidades que surgem. Para isso, lhe convidamos a conversar com um dos nossos especialistas para auxiliar nesse processo de reestruturação.