O setor da Saúde enfrenta diversos desafios, como o aumento da demanda, a escassez de recursos, a complexidade dos processos e a necessidade de inovação. Nesse cenário, é fundamental que os gestores da área tenham acesso a ferramentas para avaliar o desempenho financeiro de suas organizações. Ao comparar esses indicadores com os de outras instituições similares, é possível identificar lacunas e buscar oportunidades de melhoria.
Essa prática, conhecida no mundo dos negócios como benchmarking financeiro, permite ao gestor ter uma visão mais ampla e objetiva, identificar as melhores práticas e detectar os caminhos que poderão reduzir os custos, aumentar a receita e otimizar os processos. É a partir dessa ferramenta estratégica que gestores poderão verificar como cada instituição se posiciona em relação ao mercado, aos concorrentes e padrões de excelência, bem como ver os pontos fortes e fracos de cada uma.
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Mas quais indicadores devem ser considerados a fim de alcançar decisões estratégicas e alinhadas à eficiência? Um processo de benchmarking financeiro requer atenção e, da mesma forma que não podemos construir uma casa começando pelo telhado, é preciso seguir uma sequência de etapas.
Surge então o primeiro ponto: definir tais parâmetros, que podem abranger a receita, o custo, o lucro, a margem, o giro de estoque, o prazo médio de recebimento, o índice de inadimplência, o volume de faturamento e percentual de glosas e o retorno sobre o investimento. Com isso bem desenhado, é preciso determinar também ferramentas de coleta – nosso segundo ponto relevante.
Depois, escolher as organizações que serão comparáveis para então coletar, analisar e comparar os dados financeiros dessas instituições. Mas é nessa fase que o terceiro ponto de atenção se apresenta: para definir quais instituições podem ser comparáveis, alguns critérios devem ser considerados, como o setor de atuação (produtos, serviços e público-alvo similares); porte e escala também semelhantes; localização geográfica; e estratégia e desempenho (objetivos semelhantes).
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Contudo, é válido ressaltar que, em algumas situações, pode ser interessante comparar-se com organizações de características diferentes, inclusive de outros setores, de forma a gerar desafios rompedores e possibilitar a descoberta de iniciativas “fora da caixa”. Ficar restrito a instituições semelhantes pode gerar uma zona de conforto perigosa.
Setor da saúde reserva algumas particularidades
O benchmarking financeiro é uma prática que vem ganhando cada vez mais relevância no setor de saúde, especialmente em um cenário atual de crescente complexidade, de muita competitividade e de exigência dos clientes e das autoridades. Mas, no segmento, há algumas particularidades que precisam ser levadas em conta na hora de selecionar as organizações comparáveis.
Questões tributárias podem incidir de forma diferente. Fatores como este podem influenciar diretamente o desempenho e a rentabilidade das organizações na área, por isso é importante sempre considerá-los. Nesse contexto, também é recomendável utilizar fontes de informação específicas do setor, como, por exemplo, associações, entidades, órgãos reguladores e publicações especializadas que possam fornecer dados mais confiáveis e atualizados sobre as organizações analisadas.
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Desafios superados trazem resultados duradouros
Apesar da importância, muitas organizações do setor de Saúde ainda não realizam o benchmarking financeiro de forma sistemática e rigorosa por falta de tempo, recursos, conhecimento e metodologia adequada, ou simplesmente pelo incômodo que ele traz ao apontar lacunas existentes. Além disso, existem algumas limitações para realizar um benchmarking financeiro eficaz no setor de Saúde, como a dificuldade de encontrar organizações comparáveis, a heterogeneidade dos dados financeiros disponíveis, a necessidade de ajustar as diferenças contábeis, fiscais e operacionais entre as organizações, e a sensibilidade e a confidencialidade das informações financeiras.
Outros desafios envolvem obter dados financeiros confiáveis e atualizados, ajustar essas informações às particularidades da organização que realiza o benchmarking, interpretar corretamente os resultados e implementar as melhorias identificadas a partir de um plano de ação. E lembre-se: revisões periódicas são fundamentais para o alcance de resultados longevos.
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Nesse processo, o papel da liderança na condução de iniciativas de benchmarking é crucial para garantir o alinhamento, o comprometimento e a motivação de toda a equipe. Bons líderes estimulam a prática, colocando-as como oportunidades de se buscar novos patamares de eficiência. Capacitar os colaboradores e envolver os stakeholders na definição, execução e avaliação do plano de ação também é essencial, promovendo, assim, uma cultura de aprendizagem contínua e inovação.
E por falar em inovação, a tecnologia tem um impacto significativo sobre o tema e pode ajudar as organizações a coletarem, analisarem e compararem dados financeiros de forma mais rápida, precisa e confiável. Inteligência artificial (IA) e machine learning, por exemplo, oferecem ferramentas para automatizar processos, bem como para identificar padrões, anomalias e oportunidades de melhoria. E o cloud computing reduz custos e proporciona segurança, escalabilidade e acessibilidade aos dados.
Avaliar e comparar o desempenho financeiro contribui para que os gestores de saúde tomem decisões mais estratégicas e alinhem os objetivos financeiros com as metas assistenciais e de qualidade. O benchmarking nos desafia a buscar um novo patamar de eficiência, propiciando a competitividade e sobrevivência. Portanto, se sua organização ainda não realiza benchmarking financeiro, a orientação mais indicada é: comece a se preparar. Estimule as lideranças a buscarem ineficiências internas sem isso ser visto de forma negativa, mas sim como oportunidade promissora.
* Carlos Eduardo Starling é Group Product Manager (GPM) da Falconi para soluções de Saúde.