Pode soar estranho dizer que um dos mercados considerados como pilares da economia nacional, com crescimento de mais de 12% no primeiro trimestre do ano, está passando por desafios econômicos. Com as recentes tarifas econômicas estrangeiras e os entraves fiscais internos, o setor agropecuário se encontra em um momento de atenção.
Ao mesmo tempo em que há expectativas de que, no horizonte próximo, a recuperação de preços e o avanço da demanda externa possam abrir um novo ciclo de oportunidades para o mercado brasileiro, surge uma questão central: como atravessar a turbulência global preservando caixa e competitividade, sem comprometer o futuro?
Disciplina financeira: resposta à pressão de gastos
Gerir bem os gastos deixou de ser uma tarefa operacional para tornar-se um diferencial estratégico. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em conjunto com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estimam que 29,4% do PIB do Brasil seja fruto do agronegócio, um avanço de mais de seis pontos percentuais em comparação com 2024. Ou seja, os dados são animadores.
Neste panorama, é a gestão eficiente que permite ao produtor resistir a choques de curto prazo sem comprometer a saúde financeira do negócio. Mais do que cortar de forma indiscriminada, trata-se de alocar melhor os recursos. Isso envolve revisar contratos, redesenhar processos, estudar melhor cada investimento e seus impactos, eliminar desperdícios e, sobretudo, alinhar cada real investido à estratégia da operação.
Negligenciar esses pontos pode custar caro à sustentabilidade da operação. Estruturas que crescem com pouca disciplina ficam mais expostas às oscilações do mercado. Em contextos de tarifas globais, por exemplo, ou até mesmo com os juros altos e a instabilidade climática, qualquer descuido com os gastos pode comprometer a rentabilidade de uma safra.
Eficiência como prática e rotina no campo
Trago um exemplo das minhas andanças pelo campo. Em conversas recentes com lideranças de uma empresa com atuação no agronegócio, pude notar que, após uma análise estratégica sobre sua operação, havia uma alta significativa nos gastos de um de seus principais produtos nos últimos anos.
Exemplos de situações como essa devem ser acompanhadas por meio de uma estruturação do orçamento com metas realistas, definição de planos de ação e reorganização do modelo de acompanhamento dos resultados. Neste caso específico, o impacto projetado, mesmo em um ciclo econômico desafiador, foi de mais de 11% de redução, preservando e até ampliando a capacidade operacional da empresa.
Esse caminho passa por etapas práticas:
- Analisar detalhadamente a base de gastos, identificando gargalos relevantes;
- Construir um orçamento ideal, com metas claras por área e planos de ação específicos;
- Priorizar iniciativas de curto prazo que gerem retorno imediato e substituam o que não agrega valor;
- Implantar rotinas de gestão para sustentar os ganhos ao longo do tempo.
Vale reforçar que esse ciclo técnico e cultural transforma a eficiência em prática sistemática, e não em reação pontual.
Gestão para competir hoje e liderar amanhã
Se o presente exige respostas rápidas para conter os impactos dos gastos elevados, é justamente agora que se molda a competitividade do futuro. O agro brasileiro já demonstrou sua força em produtividade e participação no PIB. O próximo passo é consolidar essa posição com inteligência na gestão.
O futuro do setor passará por quem conseguir produzir mais com menos, mantendo resiliência nos momentos críticos e agilidade para capturar valor nos ciclos favoráveis. E isso começa agora, no detalhe das contas do presente, transformando a gestão de gastos em diferencial competitivo.
* Andre Paranhos é vice-presidente da unidade de negócios da Falconi especializada em Agronegócio