O agronegócio brasileiro entra em 2026 com margens pressionadas e maior necessidade de disciplina na gestão. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta produção recorde de 350,2 milhões de toneladas na safra 2024/25, alta de 16,3% na comparação com o ciclo anterior, impulsionada por condições climáticas mais favoráveis e pela expansão da área plantada.
A boa notícia vem com desafios, e o caso da soja é um bom exemplo. Mesmo com o recorde previsto nas exportações brasileiras do grão, o estoque de passagem da safra 2024/25 é estimado pela Conab em 3,9 milhões de toneladas, mais de quatro vezes o resultado da colheita anterior. Com isso, o movimento de alta dos preços internos não se concretiza e a rentabilidade do produtor cai.
A elevação do volume colhido não tem sido acompanhada pelo mesmo ritmo de retorno financeiro. Um levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostra queda de 36% das margens da soja e de 92% das margens do milho em relação à safra anterior. A persistência do aumento dos insumos, como fertilizantes, que registraram alta de até 20% no ano, somada à volatilidade cambial, tem limitado o planejamento e reduzido o fôlego dos produtores em um ambiente já pressionado por custos elevados.
Todos esses fatores reforçam a urgência de um controle meticuloso de estoques e de gastos. Em um setor marcado por ciclos longos e sensível a flutuações globais, erros na gestão de volumes armazenados ampliam perdas financeiras, intensificam o risco de obsolescência e restringem a capacidade de negociação. Empresas que contam apenas com tecnologia sem métodos estruturados de gestão tendem a desperdiçar recursos e comprometer decisões estratégicas ao longo da safra.
Produtores e agroindústrias que avançam na maturidade de gestão conseguem reduzir perdas operacionais, otimizar recursos e elevar a previsibilidade financeira ao integrar modelos de gestão de estoques, governança de gastos e rotinas disciplinadas de acompanhamento. A adoção de metodologias consolidadas de gestão, com indicadores claros, ritos de acompanhamento e processos padronizados, torna as empresas mais capazes de enfrentar restrições e capturar oportunidades.
Em um ano com oferta elevada e preços pressionados, práticas rigorosas de controle elevam a eficiência operacional, reforçam a saúde financeira e ampliam a competitividade diante de players mais estruturados globalmente. As empresas que priorizarem disciplina na gestão de estoques e na alocação inteligente de recursos estarão mais preparadas para atravessar períodos de baixa e sustentar crescimento sustentável.
*Andre Paranhos, vice-presidente da unidade de negócios da Falconi especializada em Agronegócio