Há anos a sustentabilidade vem andando paralelamente ao dia a dia das empresas em diversos setores, inclusive no agronegócio brasileiro. Os consumidores estão mais seletivos e atentos, os governos estão mais vigilantes e as organizações compreendendo seu papel para o legado das sociedades. Ou seja, pautas “verdes” precisam estar cada vez mais integradas às práticas de gestão dentro e fora dos campos, garantindo competitividade e acesso a mercados cada vez mais exigentes.
Ainda assim, muitas empresas ainda encaram produtividade e responsabilidade ambiental como desafios opostos, quando, na verdade, uma gestão eficiente pode fortalecer a sustentabilidade e impulsionar o desenvolvimento do agro no Brasil.
Os números reforçam essa necessidade. Estima-se que perdas causadas por eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, tenham gerado um prejuízo de R$ 290 bilhões na última década. Além disso, uma pesquisa da Tereos, em parceria com o DataFolha, mostrou que a sociedade demanda maior compromisso ambiental do setor: 89% dos brasileiros acreditam que o país deve ser um exemplo de equilíbrio entre produção e preservação. Evidências como essas reforçam que aliar desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental não é uma escolha, mas um caminho essencial para garantir a resiliência do setor no longo prazo.
Felizmente, o Brasil tem demonstrado avanços importantes nesse sentido. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, mostrou que o país lidera indicadores sustentáveis em comparação com outras nações, poupando 43,2% de seu território por meio de tecnologias agropecuárias. Ponto positivo. Além disso, as emissões de CO2 do setor vêm caindo de forma significativa, com uma redução anual média de 5% desde os anos 2000.
Ainda assim, ainda há um caminho longo a ser seguido. Para que essa evolução continue, é fundamental que empresas do agro adotem práticas estruturadas de gestão voltadas à sustentabilidade. Isso inclui a implementação de governança ambiental, a adoção de indicadores de desempenho e o investimento em inovação.
Nesse sentido, um planejamento estratégico eficiente pode ser baseado em quatro etapas fundamentais:
- Alinhamento inicial para definir objetivos sustentáveis claros: definição de compromissos e metas locais, premissas e restrições. Nessa etapa, é feita a avaliação de framework e adaptação para o contexto nacional, além do engajamento e treinamento das equipes.
- Avaliação de desempenho, com diagnóstico dos impactos ambientais da empresa: após analisar as fazendas de forma detalhada, é preciso criar áreas experimentais e estabelecer metas específicas para monitoramento.
- Implantação de projetos-piloto para testar soluções sustentáveis: com a criação de planos de ação personalizados, é nesta fase que se iniciam os projetos-teste do formato que será implementado em todas as propriedades da empresa.
- Monitoramento e controle contínuo para garantir a eficácia das ações: é feita a coleta de dados e documentação dos impactos e destaques dos projetos-piloto, além do planejamento de expansão.
Com esse modelo, é possível não apenas reduzir impactos negativos, mas também criar vantagens competitivas e melhorar a reputação da empresa no mercado.
A sustentabilidade no agro não é mais uma simples tendência, mas uma necessidade urgente. Empresas que integram gestão e responsabilidade ambiental de forma inteligente não apenas garantem seu futuro no setor, como também contribuem para um agronegócio mais resiliente, eficiente e reconhecido globalmente. O Brasil já tem potencial e avanços concretos nessa jornada, e cabe às lideranças do setor impulsionar esse movimento de forma estruturada e estratégica.
*Por Andre Paranhos, vice-presidente da unidade de negócios da Falconi especializada em Agronegócio