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Construção: com retração à vista, setor investe em tecnologia, controle de custos e capacitação

Pesquisa da Falconi em parceria com o Sienge revela pessimismo dos gestores em relação ao momento atual e ao futuro próximo do setor. Em resposta, empresas devem investir em inovação acompanhada de gestão financeira e treinamento dos times

André Chaves e Luiz Gustavo Santos*

Construção: com retração à vista, setor investe em tecnologia, controle de custos e capacitação



Três em cada quatro executivos da construção civil projetam estagnação ou retração para os próximos seis meses. O dado é da recém-lançada edição da pesquisa “Termômetro do Setor”, divulgada em agosto de 2025 pela Falconi, com apoio do Sienge. O levantamento ouviu empresas de diferentes portes e regiões e aponta como principais entraves ao crescimento: falta de mão de obra qualificada (71%), elevação das taxas de juros (48%) e custo de materiais e serviços (37%). 

Enquanto enfrenta dificuldades em atrair profissionais qualificados, o setor somou 3 milhões de empregos formais no segundo trimestre de 2025, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Apesar da grande dimensão deste mercado, há falta de talentos no setor. A variabilidade nos padrões de gestão e a baixa adoção de ferramentas digitais também impactam diretamente a produtividade da construção.  

Para reverter essa realidade, algumas empresas começam a aderir novas tecnologias. O Termômetro do Setor mostra que 41% das corporações já utilizam o método Lean Construction, que elimina desperdícios em obras. Soluções como o BIM (Building Information Model ou Modelagem da Informação da Construção), citada por 55%, CRM (43%) e inteligência artificial (37%) também estão na rotina das empresas. Ainda assim, apenas 10,8% dos entrevistados consideram o setor altamente inovador. 

O descompasso entre o potencial das ferramentas e sua aplicação efetiva revela um ponto de atenção: tecnologia por si só não resolve gargalos estruturais. A excelência operacional exige integração entre planejamento, controle de custos e capacitação para o uso de ferramentas digitais e para a automação da gestão de obras. Em empreendimentos de habitação, por exemplo, a implantação do BIM aliada a rotinas semanais de revisão de produtividade tem sido usada por construtoras para reduzir retrabalho e melhorar a previsibilidade de custos e prazos. 

Mais do que digitalizar tarefas, é preciso estabelecer padrões robustos de execução, criar rotinas de monitoramento e alinhar objetivos entre obra e matriz. O uso de indicadores operacionais em tempo real, por exemplo, permite identificar desvios antes que se tornem problemas crônicos. A gestão visual, o planejamento semanal colaborativo e as revisões sistemáticas de produtividade podem reduzir custos indiretos e ampliar a previsibilidade. 

No entanto, a dificuldade em atrair e reter mão de obra qualificada agrava a lentidão da transformação. Sem investir no treinamento contínuo das equipes, as empresas correm o risco de subutilizar as soluções digitais já contratadas, ou mesmo de não conseguir implementá-las de forma efetiva, sem aproveitar ao máximo seu potencial. 

A construção civil precisa recolocar a produtividade como prioridade estratégica. Digitalizar processos deve ser acompanhado por uma gestão profissional e com base técnica sólida. A convergência entre tecnologia acessível, liderança qualificada e decisões orientadas por dados é o único caminho para reverter a baixa produtividade, garantir diferencial competitivo e alterar as expectativas de um futuro de retração em um setor-chave para o desenvolvimento do país. 

*André Chaves, vice-presidente da unidade de negócios especializada em Indústria de Base e Bens de Capital, e Luiz Gustavo Santos, diretor da unidade de negócios especializada em Engenharia, Construção e Real Estate. 

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