jun . 2025 .

Energia e custos digitais: a gestão integrada como caminho para a perenidade industrial

Cabe à liderança otimizar o consumo energético e os gastos com tecnologia, sobretudo os relacionados à nuvem. Sem uma atuação direta da alta gestão, o controle desses custos tende a ser fragmentado, ineficiente e desconectado das metas estratégicas da companhia

Breno Barros*

Energia e custos digitais: a gestão integrada como caminho para a perenidade industrial



O ambiente de negócios no Brasil exige das indústrias uma nova disciplina de gestão. A estabilidade financeira e a competitividade passam, agora, pelo controle rigoroso de dois elementos essenciais: energia elétrica e gastos digitais, sobretudo os associados à computação em nuvem. Ambos representam custos expressivos e crescentes, pressionando margens e exigindo protagonismo das lideranças empresariais. 

O custo da energia sempre fez parte da rotina industrial, mas a pressão se intensificou. A necessidade de modernizar processos, atender exigências ambientais e lidar com a volatilidade tarifária tornou a gestão energética uma competência estratégica. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, em setores eletrointensivos, a energia pode representar até 40% dos custos operacionais. Além disso, segundo dados da Abrace Energia, a tarifa paga pela indústria brasileira é até 50% mais cara que a média global. 

Paralelamente, a aceleração digital impulsionou os gastos com infraestrutura de TI. Os serviços de nuvem — majoritariamente cobrados em dólar — expõem as empresas a riscos cambiais relevantes. Além do custo financeiro direto, há um impacto crescente também no consumo de energia. Relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) mostra que os data centers e redes de transmissão já representam cerca de 2,4% do consumo global de eletricidade, e as projeções indicam que esse valor pode dobrar até 2026, impulsionado principalmente por inteligência artificial e armazenamento de dados. 

Essa nova configuração exige muito mais do que ações táticas e isoladas. É papel das lideranças — especialmente dos CEOs — conduzir esse processo de forma estruturada e com visão de longo prazo. Trata-se de uma agenda de sobrevivência e crescimento. Sem uma atuação direta da alta gestão, o controle desses custos tende a ser fragmentado, ineficiente e desconectado das metas estratégicas da companhia. 

O primeiro passo da liderança deve ser o alinhamento claro dos objetivos. Não se trata apenas de reduzir custos, mas de garantir previsibilidade financeira e autonomia operacional. No campo da energia, isso significa estabelecer metas objetivas de eficiência, avaliar alternativas de geração própria e estruturar contratos inteligentes no mercado livre. Na nuvem, significa definir critérios claros para uso, priorizar workloads críticos e profissionalizar a gestão financeira digital — o chamado FinOps. Em empresas maduras, a adoção dessa prática pode chegar em 30% de redução de gastos.

Gestão, por definição, é o ato de entregar resultados por meio das pessoas. Nesse contexto, a liderança tem o papel de assegurar que todas as áreas estejam orientadas a esse objetivo comum. Não é admissível que setores como TI e engenharia tratem seus desafios isoladamente. A complexidade atual exige integração plena entre financeiro, suprimentos, operações e tecnologia, sob direção e cobrança clara da alta gestão. 

Mais do que nunca, a disciplina de execução se torna fator crítico. As empresas que prosperam são aquelas capazes de transformar diagnósticos em planos concretos e acompanhar sua realização com rigor. Isso envolve metas bem definidas, responsáveis atribuídos e indicadores precisos. O monitoramento contínuo do consumo energético e do uso da nuvem permite ajustes rápidos e decisões fundamentadas, preservando caixa e margem. 

Esse processo não diz respeito apenas à eficiência momentânea, mas diretamente à perenidade da organização. Em um cenário global de margens pressionadas e competição acirrada, quem não controla seus custos estratégicos perde espaço. Por outro lado, as empresas que desenvolvem essa competência se colocam em posição privilegiada para crescer de forma sustentável, manter investimentos e proteger sua geração de valor ao longo do tempo. 

A experiência demonstra que as melhores práticas não surgem por acaso. Elas são resultado de gestão séria, com foco, método e disciplina. Para o CEO que compreende seu papel como condutor desse processo, energia e digital deixam de ser apenas despesas e passam a ser instrumentos ativos de competitividade e longevidade. Esse é o caminho para empresas mais sólidas, sustentáveis e vencedoras. 

*Breno Barros é CTO e vice-presidente de Soluções Digitais da Falconi. 

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