Os investimentos em inteligência artificial avançaram com rapidez nos últimos anos, mas o aumento do gasto digital sem alinhamento financeiro mostrou que apenas empresas com cultura de governança conseguem garantir retorno sobre esses investimentos. O custo para treinar modelos, operar sistemas em produção e lidar com a volatilidade do consumo em nuvem se tornou elevado. Quando mal administrado, compromete margens e limita a inovação. É por essa razão que o FinOps 2.0 é essencial, pois une disciplina financeira e evolução tecnológica.
Essa nova etapa amplia o FinOps tradicional ao incorporar mecanismos constantes de controle, previsibilidade e uso responsável dos recursos. A adoção de inteligência artificial distribuiu os investimentos por diversas fases de armazenamento, preparação, treinamento e operação dos modelos, o que aumentou a complexidade do acompanhamento. O uso de processadores especializados também tornou o consumo mais variável. A disciplina atual busca antecipar esses comportamentos e garantir que os investimentos mantenham coerência com o valor esperado.
Entre as mudanças estruturantes, destaca-se o FinOps como código, no qual políticas são incorporadas diretamente aos fluxos de infraestrutura. Esse processo impede execuções que ultrapassam o orçamento, orienta escolhas mais econômicas e realoca atividades para momentos de menor consumo. Ele reforça a necessidade de uma cultura de governança compartilhada entre engenharia e finanças, capaz de reduzir tensões e viabilizar inovação com segurança.
Outro pilar é o uso de soluções analíticas para apoiar a governança financeira. Essas ferramentas identificam anomalias, sugerem rotas de otimização e corrigem desvios com agilidade. Há plataformas que redistribuem recursos em tempo real e definem limites por experimento, evitando o crescimento descontrolado das cargas. Esses mecanismos fortalecem a previsibilidade, um dos fundamentos culturais que sustentam o retorno esperado dos projetos.
Apesar dos avanços tecnológicos, o FinOps 2.0 depende principalmente de maturidade organizacional. Governança é prática diária e exige que engenheiros, cientistas de dados e profissionais de finanças compartilhem a mesma noção de valor, responsabilidade e limite. Quando essa cultura não está sólida, aumenta o risco de perdas financeiras e de interrupções acidentais provocadas por controles mal calibrados. O êxito da disciplina está diretamente ligado ao comportamento das equipes.
Para evoluir, três ações são recomendadas. A primeira é mapear detalhadamente os gastos em cada etapa dos modelos. A segunda é implementar governança codificada, com limites, alertas e ajustes automatizados. A terceira é aprimorar as ferramentas de monitoramento, permitindo atuação preventiva. Essas práticas reforçam o papel da governança cultural como elemento que viabiliza inovação sustentável e ROI consistente.
Empresas que desejam ampliar o uso de inteligência artificial sem comprometer sua saúde financeira precisam enxergar o FinOps 2.0 como parte de sua cultura de gestão. A vantagem competitiva não estará em treinar os modelos mais complexos, mas em fazer isso com eficiência e previsibilidade. A pergunta para as lideranças é direta: sua organização já consolidou a governança necessária para transformar tecnologia em retorno real?
*Breno Barros, vice-presidente de Soluções Digitais e CTO da Falconi