Em 2024, aproximadamente 62% dos brasileiros que precisaram de atendimento na rede de Atenção Primária de Saúde (APS) não buscaram ajuda, conforme revela uma pesquisa divulgada Vital Strategies e pela Umane com colaboração técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). As principais razões para não ir ao médico incluem superlotação e demora no atendimento, burocracia no processo de encaminhamento, ausência de equipamentos necessários e falta de profissionais capacitados. O cenário é preocupante e adiciona mais uma camada de desafio aos gestores públicos: reconquistar a confiança dos pacientes.
E o desafio precisa ser superado com rapidez. Quando um paciente deixa de ir ao médico, uma doença simples – e curável – pode se tornar crônica ou mais complexa. O problema, de um lado, diminui a qualidade de vida do paciente; do outro, amplia os gastos dos tratamentos ofertados pelo serviço público. Segundo dados do Banco Mundial, o custo do serviço público brasileiro, em torno de R$ 220 bilhões anuais, pode dobrar até 2030 – e parte desse aumento será causado por questão de ineficiência no atendimento.
A chave para a melhoria está na implementação de práticas de gestão baseadas em indicadores e metas claras. Medir o desempenho das unidades de saúde permite direcionar ações de forma mais eficaz e transparente. Também é fundamental o uso de dados para monitorar a eficiência dos atendimentos, o desenvolvimento de lideranças preparadas para decisões técnicas e a adoção de modelos de remuneração que incentivem a qualidade na assistência prestada.
Outro aspecto crucial está na incorporação da tecnologia e da análise de dados para transformar a operação do sistema. A digitalização de processos, a automação de tarefas administrativas e a utilização de inteligência artificial na gestão assistencial possibilitam decisões mais ágeis e assertivas. A reestruturação organizacional, com redesenho de processos e fluxos de trabalho mais eficientes, deve estar alinhada à jornada do paciente, garantindo um atendimento contínuo, integrado e com maior resolutividade.
Além disso, o aprimoramento do SUS passa necessariamente pelo fortalecimento da gestão de pessoas. É necessário investir na formação de lideranças, no uso de ferramentas analíticas para a melhor alocação de profissionais e no desenvolvimento de uma cultura organizacional orientada por resultados (como a satisfação do paciente). A integração entre planejamento estratégico, governança clínica e gestão baseada em dados se mostra como um caminho promissor para tornar o sistema público de saúde mais eficiente, sustentável e centrado nas necessidades do cidadão.
Com esses direcionamentos, o sistema público ganha eficiência e recursos para investir em novos tratamentos e melhorias de saúde à sociedade. Já o paciente retoma a confiança para sempre contar com um bom atendimento.
* Vinicius Brum é vice-presidente da unidade de Saúde e Farma, Saneamento, Educação e Serviços Públicos da Falconi