set . 2025 .

Gestão hospitalar privada: eficiência como caminho para a sustentabilidade

Planos de saúde registram lucros expressivos frente ao ano anterior, ao passo que hospitais lidam com glosas em alta, falta de profissionais e margens cada vez mais estreitas. Excelência em gestão é caminho para transformar desafios em oportunidades

Por Vinicius Brum *

Gestão hospitalar privada: eficiência como caminho para a sustentabilidade



O setor hospitalar privado no Brasil vive um momento desafiador. Enquanto as operadoras de planos de saúde voltam a apresentar resultados expressivos — R$ 11,1 bilhões de lucro em 2024, um salto de 271% em relação ao ano anterior, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) —, os hospitais enfrentam margens cada vez mais comprimidas, escassez de profissionais, pressão por eficiência em um ambiente de custos crescentes, além de um aumento de quase 16% nas glosas em 2024, de acordo com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

Conduzir uma operação hospitalar, diante de uma realidade como esta, significa vencer desafios. A resposta está na gestão disciplinada, aplicada com consistência, método e foco em resultados. Para isso, três pilares são essenciais: eficiência operacional, domínio do ciclo da receita e gestão inteligente de gastos.

A otimização do ciclo da receita é um exemplo claro de como a gestão pode gerar impacto direto na sustentabilidade financeira. Reduzir perdas com glosas médicas, acelerar o recebimento de faturas e aprimorar a gestão financeira são ações que, quando bem estruturadas, aumentam a margem de operação e fortalecem o fluxo de caixa. Isso é feito por meio da definição de metas claras, planos de ação efetivos, processos estruturados e uso de tecnologia para automatizar etapas e controles e prever desvios.

A eficiência operacional começa com a melhoria da eficiência dos processos assistenciais e administrativos. A eliminação de desperdícios, simplificação ou automação dos fluxos de trabalho, o uso dos indicadores certos e de dados confiáveis bem como o engajamento das equipes trazem ganhos relevantes e elevam a qualidade e a experiência do atendimento realizado. A gestão inteligente de gastos, por sua vez, exige uma análise criteriosa do orçamento e dos investimentos, com foco no retorno clínico e financeiro que proporcionam. Não se trata de cortar, mas de alocar melhor.

Diante da queda sistemática do EBITDA que observamos principalmente nos hospitais privados isolados, a necessidade de revisitar as linhas do DRE em busca de aumentar o resultado da instituição é fundamental. Numa gestão eficiente de gastos as linhas do DRE são constantemente avaliadas à luz de benchmarkings internos, externos e intersetoriais, na busca por oportunidades de maior eficiência, e planos de ação factíveis de serem implementado são elaborados, com acompanhamento efetivo para que as oportunidades, de fato, sejam capturadas.

Essas práticas abrem espaço para uma gestão com indicadores estratégicos medidos em tempo real e rituais de gestão estruturados para que o executivo tenha a oportunidade de corrigir a rota em tempo hábil para atingir o resultado do mês. Quando há controle e visão estratégica, o hospital pode investir em tecnologia, melhorar a experiência do paciente e adotar modelos assistenciais mais modernos. A boa gestão é o alicerce para a transformação digital e para a construção de um sistema de saúde mais sustentável.

Hospitais que operam com excelência em gestão estão mais preparados para se modernizar. A adoção de tecnologias como prontuários eletrônicos integrados, inteligência artificial para apoio diagnóstico e plataformas digitais de relacionamento com o paciente se torna viável quando há processos bem estruturados e finanças equilibradas. Isso não apenas melhora a eficiência interna, mas também eleva o padrão de atendimento.

A experiência do paciente também é diretamente impactada. Com processos mais ágeis, equipes bem treinadas e foco em valor, o hospital consegue oferecer uma assistência mais humanizada, segura e resolutiva. Uma gestão eficaz organiza e disponibiliza dados da operação, que permitem entender melhor as necessidades dos pacientes e responder com precisão e empatia.

O bom gerenciamento hospitalar contribui para a sociedade como um todo. Hospitais mais eficientes e sustentáveis conseguem ampliar o acesso, reduzir desperdícios e colaborar com a construção de um sistema de saúde mais justo. Em um país com desafios estruturais na saúde, cada avanço na gestão hospitalar representa um passo importante na direção de um futuro mais saudável para todos.

* Vinicius Brum é vice-presidente da unidade da Falconi especializada em Saúde e Farma 

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