A imposição de tarifas pelos Estados Unidos sobre o aço brasileiro acendeu um alerta definitivo para a indústria nacional. Os impactos são diretos: perda de competitividade, retração de mercados e instabilidade nos fluxos de exportação. Mas os reflexos podem ir muito além. Com a guerra tarifária, espera-se cadeias produtivas desorganizadas, capacidade ociosa crescente e pressões severas sobre as margens. É um cenário desafiador, mas não intransponível.
Se os obstáculos vêm de fora, a reação deve vir de dentro das organizações. A liderança industrial precisa reconhecer que não se trata apenas de um problema comercial, mas de um teste real de gestão. O momento exige decisões estratégicas: revisar mercados e portfólios, buscar alternativas à América do Norte, apostar em segmentos de maior valor agregado e, principalmente, repensar processos para aumentar a eficiência. Não há espaço para improviso. É preciso método.
Empresas que atravessam cenários adversos com maior solidez são aquelas que aplicam a gestão com disciplina. Metodologias de gerenciamento — como o PDCA (Plan, Do, Check, Act) e o SDCA (Standardize, Do, Check, Act) —, diagnósticos de produtividade e o planejamento estratégico com desdobramento de metas deixam de ser conceitos teóricos e tornam-se alavancas de ação concreta. São elas que garantem ritmo, foco, correção de desvios e engajamento da liderança em torno de prioridades reais. Em tempos de pressão, o diferencial está na execução.
O segmento do aço, como outros setores de base, tem histórico de resiliência. Mas agora é hora de transformar resiliência em vantagem competitiva. A crise não é apenas um obstáculo: é uma chance de reorganizar, profissionalizar ainda mais e acelerar o amadurecimento da gestão industrial. Os ajustes não devem ter propósito defensivo. Quando bem executados, eles preparam o terreno para crescer com solidez quando o ciclo voltar a ser favorável.
A questão está em escolher entre reagir e estagnar. O cenário externo pode não estar sob controle, mas a forma como cada empresa responde está. E quem reage com método, consistência e visão estratégica sai da crise mais forte do que entrou. A liderança brasileira da indústria do aço tem a experiência e a capacidade para isso. É hora de usar ambas com rigor e clareza.
* André Chaves é vice-presidente da unidade de Indústria de Base e Bens de Capital da Falconi; e Dennis Glória é diretor de Mineração e Metais da Falconi