A pandemia causada pelo COVID-19 expôs empresas de praticamente todos os setores e pôs à prova a “antifragilidade” das mesmas. Os processos de formulação estratégica e orçamentário comumente não levam em conta a existência de fatores externos e inesperados e tendem a evitar as incertezas. É nesse contexto, onde a consciência de que situações extremas podem acontecer, que o investimento em transformação digital e cultural e, consequentemente, em projetos de inovação garantem papel fundamental na perenidade e protagonismo dos mais bem preparados perante seus concorrentes.
Nos últimos anos, percebeu-se um boom em torno da expressão “transformação digital”. Diversos estudos foram gerados, artigos, conceitos e buzz words se espalhavam nos grupos de executivos, novas áreas e vagas criadas, novas capacitações eram buscadas, novos modelos de trabalho adotados, discussões sobre cultura e hierarquia se estendiam, conexões com startups e aceleradores passaram a ser vitais e, entre erros e acertos, as corporações foram evoluindo seus modelos internos. Tudo isso foi feito em meio a um cenário que observava previsibilidade na ordem política global e no crescimento econômico. Em muitos casos faltava algo essencial, ter o claro propósito do digital, alinhar seus conceitos à estratégia e desdobrar os projetos de forma a tornar tangível os resultados. Para deixar ainda mais complexa a equação, a pandemia trouxe ao mercado a necessidade de rápida reação. Num piscar de olhos, todos estavam utilizando tecnologias já disponíveis e não completamente exploradas “fazendo home office” (ainda não amplamente difundido).
O distanciamento físico vem promovendo uma aproximação de conceitos. Decisões anteriormente procrastinadas têm sido tomadas mais rapidamente, líderes realizam alinhamentos diretos e constantes e, culturalmente, percebe-se maior horizontalidade nas hierarquias, com as pessoas tendo mais autonomia para ter ideias, testar hipóteses e gerar resultados de formas anteriormente não pensadas ou autorizadas.
O impacto na lógica do consumo vem sendo sentido de formas variadas de acordo com os segmentos e nações. Vender passou a ser um desafio ainda maior. Vimos o redirecionamento dos gastos de marketing aos canais digitais e o foco no interesse primário do usuário e das empresas. Comunicar-se e engajar-se com o mercado tendo o cliente genuinamente no centro é fundamental. Escutar suas dores e suas aflições de momento trazendo soluções com entregas e resultados rápidos, vendidas e operadas à distância é um paradigma das empresas de serviço.
Operacionalizar esta necessidade de imediatismo de resultados pode vir do fortalecimento do conceito de plataforma. Unir aspectos do digital, de colaboração e de criação utilizando ativos já existentes e explorá-los na forma de diferentes modelos de negócio. Este mecanismo pode ser empregado no momento em que vivemos quanto num futuro pós-crise. Conceitos de digital, de inovação/criação e de economia colaborativa podem ser explorados na busca incessante por resultados consistentes:
- Intensifique parcerias e atue junto ao ecossistema de startups e/ou parceiros (ex: crie soluções integradas com parceiros e explorem mutuamente os canais de distribuição);
- Reaproveite seus ativos físicos, de inteligência e/ou digitais (ex: base de clientes de um produto reduz o custo de aquisição para a venda de outro);
- Gere conteúdo;
- Teste rápido – feito é melhor do que perfeito (ex: invista, pouco, em canais de distribuição antes não explorados e tenha o aprendizado como métrica de sucesso);
- Desenhe modelos de negócios digitais para as necessidades de mercado e que alavanquem ativos dos clientes (ex: automatize análises e insights para melhorar seu resultado de vendas);
No pós-crise, teremos hábitos alterados e novas formas de consumo e trabalho tendem a perdurar. A constante observação do consumidor, a capacidade de adaptação às novas dinâmicas e a garantia de processos robustos que suportem este modelo serão essenciais neste período de gestão de crise e formarão a base das empresas quando tivermos uma recuperação do mercado.