O ensino fundamental, arrisco dizer, é um dos mais críticos para a formação educacional do cidadão. Deficiências nesta etapa do ensino básico poderão trazer várias dificuldades de aprendizado futuro, formação social e colocação no mercado de trabalho — algumas delas de difícil recuperação. De acordo com o Censo Escolar 2021, o Brasil registra cerca de 26,5 milhões de alunos matriculados no ensino fundamental, entre o 1º e o 5º ano.
Para esses estudantes, o cenário educacional torna-se mais preocupante pós-pandemia. Os últimos números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em setembro do ano passado, mostram que a nota dos alunos piorou em todas as áreas avaliadas na comparação entre os anos de 2019 e 2021.
Além disso, esses dados podem ter sido “mascarados”. Explico. O Ideb considera dois fatores: a taxa de aprovação dos alunos, quantos não repetiram de ano, e os resultados das provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Mas, por conta da pandemia, parta da rede de ensino adotou a aprovação automática e passou todos os alunos de ano, sem necessariamente significar um real aprendizado. Já as avaliações do Saeb tiveram baixa adesão, justamente por conta do afastamento imposto pela Covid.
É importante lembrar que essas provas foram aplicadas entre novembro e dezembro de 2021, período em que muitas instituições de ensino tinham acabado de voltar ao ensino presencial, e outras ainda estavam em sistema híbrido. A soma desses dois fatores pode ter atrapalhado as estatísticas, já que muito provavelmente foram os alunos em maior vulnerabilidade que se afastaram da escola. Dessa forma, o cenário pode ser ainda pior.
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Ainda que tenhamos uma taxa de escolarização de 99,7% da população na faixa etária de seis a 14 anos (PNAD, 2019), algo próximo à universalização da educação, devemos avaliar, criteriosamente, a qualidade do ensino e do serviço prestado nas instituições do país. O Brasil possui hoje cerca de 11 milhões de jovens analfabetos acima de 15 anos de idade, ou seja, logo após a faixa etária comum à conclusão do ensino fundamental.
Esse contingente de jovens não teve acesso às salas de aula ou terminou o ensino médio sem saber ler e escrever, com capacidade reduzida de resolver contas simples, como as de adição, subtração ou multiplicação. E o retrato é ainda mais grave: mais de 40% das crianças brasileiras com idade entre seis e oito anos, ainda não foram alfabetizadas, conforme dados divulgados na pesquisa “Todos pela Educação”, do IBGE, de 2021.
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Talvez ainda estejamos longe de uma educação efetivamente universal e de qualidade. Mas há solução e ela não passa exclusivamente por investir mais dinheiro na educação pública. É equívoco resumir as deficiências do ensino à falta de investimento financeiro.
Há, sim, grandes oportunidades de melhoria da gestão e de melhor utilização dos recursos públicos já disponíveis. Cerca de 80% dos alunos do ensino fundamental estão matriculados em escolas públicas distribuídas pelos mais de 5 mil municípios do país, também conforme o PNAD. Portanto, cuidar deste assunto é cuidar do futuro do Brasil.
A cidade do Rio de Janeiro sai na frente com uma meta ambiciosa e necessária para a redução da desigualdade na aprendizagem das crianças da rede pública de ensino no município: ter 90% dos alunos alfabetizados até o fim do 1º ano do ensino fundamental.
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Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME) da capital fluminense, a Falconi, consultoria brasileira de gestão empresarial e de pessoas, tem participado na construção de uma engrenagem de mudanças positivas nas quase 1,5 mil unidades escolares do Rio para ajudar a superar alguns desafios como, por exemplo, déficit nos índices de aprendizagem, frequência escolar, estrutura de instalações e falta de pessoal.
O caminho? Melhoria da gestão e capacitação dos profissionais da educação. Foco no aprendizado na idade certa e cultura digital como fator de educação e inserção social.
É um processo de mudança cultural no sistema educacional do Rio conduzido a partir de um direcionamento estratégico e suportado pela implantação de uma governança de resultados, por um maior envolvimento das pessoas e pelo aperfeiçoamento da gestão.
O trabalho está dividido em quatro grandes grupos: Impacto Educacional, assegurando aprendizagem na idade certa com equidade entre os alunos; Educação e Cultura Digital que propiciem acesso e apropriação de conteúdos e práticas inovadoras como fator de inserção social; gestão para melhorar a eficiência operacional e de gastos; e valorização pessoal para qualificar e engajar profissionais com construção de liderança entre eles.
Trata-se de um trabalho de base para elevar o nível de excelência do ensino público a médio prazo, com resultados efetivos a partir do final de 2023. Nosso objetivo com esse importante projeto é transformar a educação para a educação transformar o Brasil. Novidade? Talvez nenhuma, exceto pela iniciativa de ir lá e começar a fazer.