jun . 2024 .

“O foco é ajudar o agricultor a alimentar o mundo de forma sustentável”

Em entrevista, executivo da Agco, Rodrigo Junqueira, fala sobre tecnologia e gestão para a superação dos obstáculos do agronegócio nacional

“O foco é ajudar o agricultor a alimentar o mundo de forma sustentável”



A agropecuária, um dos principais motores da economia brasileira, cresceu 11,3% no primeiro trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo o IBGE. Com mais de 23% de participação no PIB do país em 2023, o agronegócio brasileiro, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ocupa a quarta posição entre os cinco maiores produtores agrícolas do mundo. Para falar sobre a pujança deste setor, o vice-presidente para Soluções de Gestão no Agronegócio da Falconi, Rodrigo Rodrigues, esteve com o managing director da Agco na América do Sul e vice-presidente da Massey Ferguson na região, Rodrigo Junqueira.

Em gravação no estúdio da Exame para o primeiro episódio da série Conversa de CEO, uma produção comemorativa dos 40 anos da Falconi, os especialistas se encontraram para debater a força do agro, mas, sobretudo, os desafios dos produtores para um crescimento sustentável. Assista ao vídeo:

Em uma análise das últimas décadas, o executivo da empresa multinacional com foco em desenvolvimento, fabricação e distribuição de equipamentos agrícolas pontuou o avanço da agricultura a partir da aquisição de tecnologia em maquinário. Mas os obstáculos do agricultor vão além da produtividade no campo. É preciso estar atento às pessoas e à sucessão das lideranças, questões diretamente ligadas à gestão. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Qual é o nível de automação do agronegócio brasileiro?

Rodrigo Junqueira – É preciso acompanhar todo o ciclo de evolução para entender que não saímos ontem da enxada para máquinas supermodernas. A agricultura começou com ferramentas rudimentares com o objetivo de produzir alimento e, posteriormente, passou a usar máquinas mais rústicas. Há uma evolução muito grande a partir da década de 1950 e um salto no início do século 21 com a biotecnologia. Vimos o desenvolvimento de sementes com um poder maior de produtividade e fertilizantes atingindo o seu objetivo. E quando falamos em tecnologia em si, hoje temos máquinas modernas e sistemas inteligentes que ajudam a produzir mais, de forma eficiente a um custo menor. Estamos vivenciando a agricultura da era conectada, trabalhando com o suporte de máquinas tecnológicas, interligadas a sistemas inteligentes que, em tempo real, leem os dados no campo e se conectam com sistemas poderosos com muitos algoritmos e informações que orientam o produtor a tirar o melhor potencial daquela área.

Qual é o caminho da Agco para aliar gestão e inovação em favor do aumento da produtividade no campo?

A Agco é uma empresa de 33 anos, detentora de algumas marcas, e, com elas, a gente vem trabalhando para atingir os diferentes tipos de produtores e de culturas nessa magnífica região que é a América do Sul. Recentemente, anunciamos a join venture com a Trimble (empresa de tecnologia que atua no setor de automação e telemetria para diferentes segmentos) e, na sequência, formamos a PTx, nova empresa da Agco, que contempla não apenas a PTx Trimble e Precision Planting, mas também outras quatro empresas do grupo dedicadas à tecnologia e a automações. A proposta é oferecer soluções agrícolas de precisão perfeitamente compatíveis e poderosamente simples. Tecnologias que equipam os agricultores para conectarem máquinas de diferentes marcas em suas operações, maximizarem seus recursos e tomarem decisões com confiança.

Quais os desafios para isso?

Hoje, há menos de 20% de conectividade no campo para potencializar toda essa inteligência que as máquinas possuem. Isso é um baita desafio. Nos esforçamos para colocar mais tecnologia nos equipamentos, mas também precisamos ter essa tecnologia cada vez mais disponível.

Fora do campo tecnológico, quais seriam os principais obstáculos que o produtor enfrenta atualmente?

Precisamos falar daqueles que não estão sob o nosso controle. A exemplo do que está acontecendo no Rio Grande do Sul, o clima é algo desafiador. O preço das commodities e dos insumos também é um tema sobre o qual temos cada vez menos influência. Mas existem fatores que a gente pode controlar. Ter planos de sucessão é uma questão que o agro vem se desenvolvendo e aprendendo a trabalhar cada vez melhor. E, por fim, outro desafio que vivemos no dia a dia são as pessoas. Precisamos de gestão para conectá-las ao nosso propósito e para que sejam bem treinadas.

Como a Agco trabalha a questão da gestão de gente?

Na Agco, ter o cliente em primeiro lugar é o que respiramos diariamente, o tempo todo. Ele está no centro de tudo em nossas tomadas de decisão para que tornemos possível a produção de alimento cada vez mais sustentável. Para conseguir isso, precisamos de um bom ambiente profissional. E criar esse clima depende de dois pilares muito especiais. Um deles é o que chamamos de team up, que é o trabalho em time de forma unida e engajada, olhando o benefício do todo e não apenas de um ou outro departamento. O segundo é o speak up. Todos, sem exceção, têm o direito de colocar a sua ideia e de ser ouvido de forma igualitária e respeitosa.

Além de manter o engajamento, como é feita a capacitação das pessoas? Afinal, a entrega de tecnologia também deve exigir um time treinado…

Somos guiados pelo nosso propósito e pelas crenças culturais. Buscamos constantemente extrapolar os limites da Agco, incluindo rede de concessionários nesta mesma linha de conduta. Treinamento é uma parte importante para transmitir e enraizar a estratégia em ter o cliente no centro de todas as nossas decisões, para que ele possa produzir mais alimentos. A disseminação de conhecimento é um assunto longo, pois são diversas iniciativas. Além da Agco Academy, centro de treinamento estruturado em Campinas, no interior de São Paulo, diversas parcerias são realizadas com universidades, centros de capacitação e órgãos oficiais, como, por exemplo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em vários estados.

A Agco tem atuação também no Rio Grande do Sul. Como tem sido o enfrentamento dessa tragédia?

Temos na cidade de Canoas em torno de 1.500 funcionários. Uma porção grande do nosso time foi impactada. Apesar de muito triste, é gratificante ver a união de todos para ajudar os que foram atingidos. Nós resgatamos pessoas, familiares da nossa fábrica, e estamos fazendo e distribuindo comida. Temos conseguido, por meio de um volume mais ou menos proporcional de afetados e voluntários, cuidar uns dos outros, distribuir água e dar acolhimento. No ambiente que criamos na companhia, o funcionário sabe que não está sozinho, mesmo em uma situação complicada como esta, ele sabe que não está só. É desafiador! Mas, ao mesmo tempo, é muito bonito de ver a resiliência e o esforço em se reinventar, se desenvolver e estar cada vez mais preparado para enfrentar esses fatores que estão ou não sob o nosso controle.

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