Os dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil retratam um problema que afeta milhões de brasileiros: a falta de abastecimento. Já não bastasse a baixa cobertura do fornecimento de água e esgoto em grande parte do país, hoje 40,3% da água potável é perdida antes de chegar nas casas das pessoas — índice que piorou 3,3% desde 2012, conforme mostra o gráfico abaixo. Considero o enfrentamento a esse desafio como uma tarefa complexa e contínua, não só pela necessidade de ampliação da rede, mas também porque a infraestrutura de saneamento que opera eficientemente no país pode apresentar falhas futuras.
A necessidade de investimentos é inquestionável, mas a abordagem não deve ser unidimensional. É preciso aliar o aporte financeiro a estratégias inteligentes, adoção de tecnologia avançada e inovação contínua. Dessa forma, os recursos financeiros serão utilizados de maneira mais eficaz. Ainda que as empresas de saneamento destinem parte do orçamento para a manutenção das suas redes para um sistema com menos perdas, questionar sobre a eficácia no uso destes recursos financeiros é fundamental.
Hoje, já dispomos de algoritmos de inteligência artificial que permitem um mapeamento completo dos problemas de abastecimento de uma rede para otimização do planejamento de manutenções garantindo que se “faça mais” com o dinheiro disponível. Por outro lado, a ausência de uma estratégia que privilegie a eficiência tecnológica e a inovação no processo poderia nos levar a um ciclo contínuo de desperdício.
Destaco algumas tecnologias que já têm sido aplicadas para reduzir as perdas na distribuição, como:
- Inteligência artificial para análise preditiva utiliza algoritmos de aprendizado de máquina para prever falhas, possibilitando ações preventivas de manutenção das redes de distribuição.
- Sensores e sistemas IoT (Internet das Coisas) que permitem o monitoramento em tempo real do sistema de abastecimento, identificando rapidamente vazamentos e outros problemas.
- Drones e veículos autônomos subaquáticos equipados com sensores e câmeras facilitam a inspeção de tubulações, detectando rapidamente vazamentos e problemas estruturais.
Logo, o investimento em inovação desempenha um papel fundamental na busca pela redução das perdas de água, mas seus benefícios vão além. É possível alcançar uma gestão mais sustentável e eficiente dos recursos hídricos e uma maior eficácia aos investimentos corporativos, permitindo que as empresas maximizem seus recursos e obtenham resultados mais satisfatórios. Isso contribui para a universalização do saneamento básico no país, garantindo acesso à água de qualidade para toda a população e, consequentemente, melhorando o bem-estar e a qualidade de vida dos brasileiros.