Inclusivo, verde e mais humano. Seriam essas as palavras que fazem parte de um futuro já incorporado em nosso presente? Estamos em uma época em que a inovação, o desenvolvimento de negócios sustentáveis, as transformações digitais e a busca por resultados efetivos moldam as estratégias corporativas. Mas como realmente alcançá-las?
Para Viviane Martins, nossa CEO e uma Liderança com Impacto da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, algumas pautas têm colaborado para a evolução e o amadurecimento das empresas. Em destaque está o ESG (environmental, social and governance), sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança.
“Acredito que essa sensibilização que o ESG promove na sociedade e nas organizações é muito importante. Primeiro, porque esses 3 pilares, governança, social e ambiental, precisam ser integrados”, afirma ela, ressaltando a necessidade de produzir impactos positivos e mensuráveis nos modelos de negócios e nas estratégias das organizações.
O atual, mas nem tão novo assim, ESG
Apesar do cenário aquecido atualmente, as temáticas que compõem o ESG já vinham sendo desdobradas no Brasil há alguns anos. A governança corporativa é um dos pilares que começaram a ser destaque na década de noventa. De lá para cá, o ambiental e o social também ganharam evidência em debates e em metas organizacionais. Já a sigla começou a ser conhecida em 2004, após a publicação do documento Who Cares Wins.
“Esse movimento atual é muito positivo, mas ele não é 100% novo. É importante trazer isso para a agenda do Brasil e entender que muitas empresas já vinham caminhando em alguns desses campos há algum tempo. Alguns setores industriais já vinham buscando, por exemplo, uma melhoria na matriz energética”, reforça Viviane Martins, complementando: “já temos em vários setores uma matriz energética mais limpa, não à toa, dentro dos nossos objetivos sustentáveis, os chamados ODS, que o Pacto Global da ONU nos propõe promover na agenda 2030, o Brasil só tem chances de alcançar essas metas exatamente no campo da energia limpa”.
“É muito importante esse momento que o ESG está criando, mas não podemos esquecer que os movimentos já existiam e agora precisam ser integrados“.
ESG e economia verde, princípios que andam juntos
As finanças sustentáveis também estão relacionadas com os pilares ESG. Hoje, setores públicos e privados aplicam o conceito para incentivar iniciativas mais conscientes no capital, propagar inovação, gerar empregos e soluções climáticas, favorecendo todos os stakeholders. Movimentos que dão relevância ao mercado e ajudam a traçar metas e ações.
“Nessa agenda ESG, a gente vê uma contribuição muito importante do setor financeiro. Não só as ações verdes vêm sendo valorizadas, como, por exemplo, fundos de investimentos e grandes bancos estão disponibilizando algumas carteiras específicas para operações de créditos que tenham realmente valor sustentável e foco na melhoria do impacto ambiental, é o que chamamos de economia verde”, explica Viviane.
“Mais do que ter impacto, a gente precisa promover o equilíbrio porque isso é uma das premissas da sustentabilidade. Promover equilíbrio entre o meio ambiente, a sociedade e as organizações, os três pilares de forma harmônica“.
Mais que resultados, impactos
Ainda muito se relaciona alcançar resultados com questões financeiras. Mas o que realmente define bons resultados? Colocar os pilares ambiental, social e governamental em equilíbrio. Ou seja, ter propósitos para gerar impactos.
Não à toa, os investimentos de impacto têm crescido no Brasil. O modelo de negócio que, mais que lucros, busca colaborar com pautas como reduzir a degradação ambiental e a desigualdade social cada vez mais tem se tornado uma esfera importante nas empresas.
“Estamos falando de geração de valores, que atendam não apenas os acionistas, mas os colaboradores, a sociedade, o meio ambiente, o governo e todas as partes que se relacionam com aquela companhia. Os resultados não são apenas econômicos e financeiros, só isso não é suficiente mais”, afirma a CEO da Falconi.
Então, como alcançar de fato esses impactos? Para isso, ter um planejamento estratégico é primordial. É preciso investir em métricas bem estabelecidas de longo, médio e curto prazo. Estar atento aos objetivos e entender se as empresas estão de fato comprometidas com a causa. Além disso, também é relevante entender não apenas se está na direção correta, mas também na velocidade esperada.
“Toda a estratégia que a organização tem, seja de crescimento, de inovação, de entrar no mercado ou de transformar, o ESG precisa permear, precisa ser um componente de cada etapa“.
Outra questão importante é a geração de valor para outros negócios. Privilegiar cadeias de abastecimento locais e fornecedores menores também são maneiras de expandir o propósito. Ajudar no crescimento de PMEs e sua entrada nas práticas de ESG é uma iniciativa que vai ao encontro do ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico).
“As grandes empresas vão ter um papel destacado em ajudar a ampliar o movimento, pois, por meio das cadeias em que estão inseridas, podem alcançar as médias e as pequenas empresas, que, muitas vezes, ainda estão no campo da sensibilização e não conseguiram colocar em prática melhorias significativas em ESG”, expõe ela.
E quais são os desafios para o futuro?
De acordo com Viviane, o debate social é um pilar que as empresas precisam desenvolver mais e que devem prestar mais atenção.
“Temos algumas métricas de impacto social, mas penso que elas precisam ganhar mais amplitude, ser mais conhecidas e entender que o social de fato não é apenas a filantropia. É enxergar as pessoas de cada organização e cuidar de gente, e nisso também me refiro à saúde mental, que é uma temática que ganhou outra visibilidade na pandemia, e que a partir desse núcleo interno a gente possa expandir esse efeito para a sociedade como um todo”, orienta.
Em segundo lugar, é importante entender que só mitigar malefícios não é mais suficiente para a sociedade atual. É preciso agir e sair da mitigação para a promoção. “Não basta ser antirracista, por exemplo, dentro de uma empresa, a gente precisa ser capaz de promover o antirracismo. Seja nas relações com fornecedores, clientes e empresas, o desafio é que as empresas assumam um papel de protagonistas e não apenas de se preservarem”, reforça.
“Mais do que ter impacto, a gente precisa promover o equilíbrio porque isso é uma das premissas da sustentabilidade. Promover equilíbrio entre o meio ambiente, a sociedade e as organizações, os três pilares de forma harmônica“.
Um futuro promissor
Em 2022, espera-se mais empresas protagonistas no mercado e de fato engajadas na causa. Um comportamento organizacional efetivo, qualitativo e duradouro, em que todos os lados envolvidos desfrutam dos benefícios.
“Acredito muito na relação que eu chamo de ganha-ganha, e enquanto a gente, como organizações, não encontrar essa possibilidade em que ganha a empresa, ganha a sociedade e ganha o meio ambiente dentro de relações éticas, isso não vai ser perene. Tenho muita confiança que o ESG não é um modismo, que ele não veio para ficar um mês ou um ano. Acredito que ele é uma nova mentalidade e uma nova forma de gerir e organizar as empresas. Então, para que isso aconteça a longo prazo, precisamos pensar nessas relações de ganha-ganha”, expressa Viviane.
Um futuro mais inclusivo também deve contornar o Brasil e a educação e é um dos mecanismos para ativar essa jornada e propagar a produtividade. “Uma empresa que se torna mais sustentável, também tem uma marca empregadora mais atrativa. Hoje, as pessoas têm prestado mais atenção não só aos temas ambientais, mas à diversidade e à inclusão, e escolhem a empresa onde querem trabalhar”, conclui ela.
Para a executiva, a pergunta que a move é “como transformar o futuro de uma maneira exponencial?” Certamente, a inovação é um dos meios para chegar a essas relações. Falamos de empresas que propagam mudanças, inovam e ainda favorecem o negócio e a sociedade.
Quer saber mais sobre o assunto?
Ouça o episódio do podcast “Perguntas que nos Movem”, com Viviane Martins.