Temas ESG têm sido amplamente debatidos dentro do setor de mineração, com as pautas ambientais, sociais e de governança cada vez mais transversais ao segmento. Não à toa, o assunto permeou boa parte das discussões durante a Exposibram 2023, um dos mais relevantes eventos da América Latina realizado em agosto deste ano pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em Belém (PA), onde tive a oportunidade de expor a importância do envolvimento do setor na definição e ampliação das metas e na execução de ações setoriais.
Ao lado de diversos outros especialistas, pude acompanhar o vice-presidente técnico da Vale, Rafael Bittar, que reconheceu o impacto que eventos de rompimento de depósitos de rejeitos trazem para o segmento e para as comunidades e como a indústria tem sido capaz de mudar suas estratégias. Questões ligadas à tríade ESG devem fazer parte do dia a dia das empresas. O desafio é internalizar isso e fazer com que executivos, lideranças e a comunidade entendam essa necessidade.
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Durante o evento, o diretor de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da AngloGold Ashanti, Othon Maia, citou que as demandas do ESG são um caminho natural para o desenvolvimento da mineração. Ele trouxe a importância das relações com as comunidades e da transição energética. Já o diretor de Relações Governamentais e Sustentabilidade da Mosaic Fertilizantes, Antonio Josino Meirelles, falou sobre a importância da diversidade. O cumprimento das pautas ESG não só reduz impactos ambientais e sociais das operações, mas também pode melhorar a reputação da empresa, atrair investidores éticos e fortalecer as relações com as comunidades locais.
Falconi e o debate sobre a jornada ESG do setor
Em 2019, o Ibram lançou a Carta Compromisso visando a transformação da indústria com práticas mais sustentáveis e seguras. Diante da necessidade de promover sustentabilidade e responsabilidade social, a Falconi contribui para o debate sobre a jornada ESG do setor mineral brasileiro com a condução de uma parceria com o Ibram desde 2021. A atuação permitiu impulsionar o trabalho com o estabelecimento de metas e ações para os temas: Energia; Saúde e Segurança Ocupacional; Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos; Mitigação de Impactos Ambientais; Água; Desenvolvimento Local e Futuro dos Territórios; Relacionamento com Comunidades; Comunicação & Reputação; Diversidade & Inclusão; Inovação; e Resíduos.
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O ESG do setor de mineração evolui a cada ano. Tais avanços podem ser verificados por:
- Crescimento do engajamento das empresas do setor: 88% a mais na participação das organizações entre 2021 e 2023, de acordo com as coletas realizadas nos períodos.
- Em 2021, havia 16 metas estabelecidas em nove grupos de trabalho. Após dois anos, foram apuradas 26 metas em todos os grupos: um aumento de 62,5%;
- Novas metas relevantes estabelecidas em 2023: no tema de energia, a mudança esteve em linha com as discussões de aumento da matriz energética em fontes renováveis. Além disso, o grupo de resíduos estabeleceu o aumento em 30% do índice de reciclagem sobre geração total de resíduos não minerais até 2026;
- Mensuração da maturidade da gestão ESG por meio de um self assessment onde as empresas podem fazer um diagnóstico de sua situação atual e traçar um plano de crescimento. De 2022 para 2023, o indicador de maturidade que teve maior taxa de aumento foi a incorporação das metas ESG ao plano de remuneração variável das organizações. O pilar que ainda apresenta as maiores oportunidades de melhoria é a implementação e geração de valor sustentável e compartilhado.
Ainda durante o evento, tive a oportunidade de participar do PodMinerar, o podcast do canal de comunicação do Ibram que tem o objetivo de disseminar conhecimento e promover um amplo debate sobre a realidade da mineração e a mineração do futuro.
Três temas tem sido amplamente debatidos dentro do segmento e que estão sendo trabalhados pelo setor de forma intensa estão relacionados com a descarbonização, inovação e legislação:
Descarbonização e transição energética com utilização de fontes renováveis:
Grandes empreendimentos já contam com operações com energia limpa, mudança imprescindível para reduzir a taxa de emissões.
Inovação / Digitalização:
As mineradoras estão se preparando para enfrentar grandes desafios por meio de inovação. A digitalização e a inovação são questões que permeiam todos os temas, influenciando, principalmente, a alavancagem de resultados através de redução de custos, o aumento em produtividade, a eficiência operacional, as tomadas de decisão mais assertivas e transparência nos processos, bem como a redução dos impactos negativos sobre as comunidades onde as mineradoras mantêm as operações.
Legislação:
O nível de exigência com relação à sustentabilidade, aos aspectos sociais e à regulação cresceu nos últimos anos. Debates sobre a importância de encontrar soluções para garantir o desenvolvimento da cadeia produtiva de forma justa e sustentável são fundamentais para o maior envolvimento e alinhamento com órgãos governamentais e comunidades onde as operações estão inseridas.
*Dennis Glória é diretor de Mineração e Metais da Falconi