No universo dos negócios, bem como em todas as esferas da sociedade globalizada de hoje, tudo acontece em velocidade acelerada. E o impacto dos fatos não respeita fronteiras. Por isso, mesmo que aconteçam a milhares de quilômetros de distância, exigem o olhar atento das lideranças, acompanhando os rumos das principais economias e dos conflitos regionais que afetam os mercados mundo afora. Em um ambiente como este, nada mais sábio do que pensar muito antes de agir.
As eleições nos Estados Unidos, a velocidade da queda da taxa de juros e a desaceleração da maior economia do mundo são, por exemplo, temas que alimentam o compasso de espera. Em uma faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, os juros americanos foram mantidos pelo Federal Reserve (Fed) e continuam sendo o maior nível das taxas desde 2001.
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A projeção dos formuladores de política monetária dos EUA é de três cortes de 0,25 ponto no referencial de juros em 2024. Ou seja, a redução será de 0,75 ponto até o fim do ano. Por que isso é importante? Porque o Fed é como uma bússola para todo mercado financeiro global, incluindo o Brasil. O que acontece lá, pode ter certeza, vai afetar de alguma forma o bolso de todos.
A morosidade na queda da taxa de juros dos Estados Unidos aliada a toda instabilidade em torno das eleições presidenciais trazem um ponto de grande incerteza. Polarizado entre Joe Biden e Donald Trump, o país assiste a uma corrida eleitoral polêmica. De um lado, o republicano Trump, passando por um julgamento criminal, e, do outro, o democrata Biden envolvido em uma crise externa com o risco de uma guerra ainda maior no Oriente Médio.
O conflito entre Israel e Hamas – com desdobramentos no Irã e outros vizinhos árabes, alguns dos maiores produtores de petróleo do planeta – pode ter consequências profundas na política interna e na reeleição do atual presidente. Tornando ainda mais complexo o quadro, já que a economia americana segue dando sinais de desaceleração: a expansão do PIB não passou de 1,6% no primeiro trimestre, bem abaixo dos esperados 2,4%.
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Isto para não mencionar o fato de, na Europa, a guerra entre Rússia e Ucrânia já passar de dois anos sem perspectiva de arrefecer. E, como no caso do conflito nascido na Faixa de Gaza, com consequências além dos efeitos locais.
De forma geral, em todo o planeta, todos esperam o agravamento da instabilidade nos mercados financeiros, do impacto no comércio internacional, do aumento nos preços das commodities, dos desafios para a cooperação internacional e dos riscos para o crescimento econômico. Até que outro cenário comece a ser desenhado no horizonte, é necessário aguardar.
Aqui no Brasil, outros fatores também pedem cautela aos gestores. A reforma tributária é um deles. Aprovada em 2023, ela está de volta ao Congresso para uma nova regulamentação. A proposta, agora, está em discussão para definir quais itens e atividades devem ter isenção, desconto ou imposto seletivo, como a cesta básica e produtos como cigarros, bebidas alcoólicas e veículos poluentes.
Tal tramitação acontece justamente quando o Brasil enfrenta déficit nas contas públicas. Em fevereiro deste ano, as contas do governo federal registraram um rombo de R$ 58,44 bilhões, o pior resultado para o mês em 28 anos. Apesar do bom desempenho da arrecadação, que somou R$ 186,5 bilhões (recorde histórico para o período), as contas públicas, de acordo com o Tesouro Nacional, foram impactadas pelo pagamento de R$ 30 bilhões em precatórios.
Ou seja: vindos de todos os lados, os sinais pedem prudência no avançar, um ritmo mais comedido. Uma lentidão que, neste caso, não dever ser vista como fruto de ineficiência. Pelo contrário. Aguardando-se maior clareza em diferentes frentes, é importante avaliar os cenários considerando toda a conjuntura: em exercício de criação de ambientes hipotéticos, os gestores podem encontrar os melhores caminhos para atravessar fases de incerteza como a atual.
Olhar estratégico de gestores sobre os cenários
Em um cenário de estagnação, com crescimento abaixo do previsto para o Brasil, os gestores devem cuidar dos clientes atuais com melhorias na sua jornada e na sua satisfação. Isso reduz a saída de consumidores, cancelamento de serviços ou a quebra de contratos. Manter os clientes satisfeitos é vital para a sobrevivência do negócio. Mas não só isso, é preciso que as lideranças estejam atentas às despesas e aos processos internos para ganhos de eficiência. Nesta etapa, automação, digitalização e uso de inteligência artificial podem ser grandes catalisadores.
As cadeias finalísticas também devem ser revisitadas para redução dos custos, seja com medidas simples de melhoria de processos ou de produtividade, ou com medidas mais estruturantes, passando pela inovação da forma como os processos finalísticos são realizados.
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Já um cenário positivo, com crescimento acima do esperado e com juros abaixo da expectativa, exige principalmente dos gestores um olhar da porta para fora. É hora de avaliar a base de clientes, os canais de vendas, novas possibilidades de produtos e de serviços. Também é preciso analisar a estrutura atual da companhia, especialmente da equipe comercial, para evitar o grande erro de não crescer o quanto se poderia. Às vezes, os ganhos com o aumento da demanda dificultam a capacidade dos gestores de enxergar que o crescimento da margem de lucro poderia ser ainda maior com pessoas qualificadas e com processos corretos para a ampliação da produtividade.
Outro ponto a se avaliar são as fontes de crescimento. Muitas vezes, este cenário propicia oportunidades inorgânicas de expansão que são mais rápidas e eficientes do que as orgânicas. As empresas que entendem o momento, aproveitam este ambiente e crescem fortemente. Porém, sem dar atenção para a rentabilidade, corre-se o risco de gerar ineficiência em seus custos e despesas.
Vale destacar que qualquer cenário econômico é passageiro. Seja ele qual for, o que deve ser permanente dentro das empresas é olhar para frente. As lideranças devem garantir que as pessoas se mantenham engajadas, motivadas e confiantes no caminho que a empresa está trilhando. Em dias fáceis ou incertos, um time pronto e coeso é o que vai contribuir para a sustentabilidade do negócio.
Daniel Oliveira é vice-presidente de Energia e Serviços Financeiros da Falconi e Rodrigo de Morais é diretor de Serviços e Tecnologia da Falconi