O Gás Natural Liquefeito (GNL) tem emergido no cenário da transição energética como uma importante fonte para a indústria global, oferecendo incontáveis vantagens em termos de eficiência, segurança e redução de emissões de poluentes – esta última, um dos grandes desafios atuais e, não à toa, uma das metas da maioria das grandes organizações. No Brasil, em recente evento do setor, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, indicou o interesse da pasta em investir nesse mercado, criando um comitê para monitorar as atividades e propor regulações para as tarifas de escoamento e processamento do gás. Silveira reforçou, entre outros dados, que é possível diminuir em 25% o preço do gás natural no Brasil – o que, sem dúvidas, estimularia o mercado.
Mas, será essa uma missão fácil? Alguns especialistas já alertam para a necessidade de se fazer muitos ajustes para chegar, de fato, a esse objetivo.
O último “Reporte Global de GNL” (tradução livre para “World LNG Report”), da International Gas Union, apontou que o mercado mundial de liquefação cresceu 4,3% em 2023 na comparação com 2022, mesmo com os mercados internacionais reduzindo cada vez mais as importações desse combustível. China e Índia, por exemplo, reduziram sua compra em 19,3% e 17,7%, respectivamente, investindo na produção própria. No Brasil, as importações de gás natural boliviano diminuíram cerca de 15% nos primeiros meses de 2023, em comparação com 2022.
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Vale ressaltar que o GNL possui diversas aplicações industriais, podendo servir de fonte de energia para fundição de metais, fabricação de vidro, produção de cerâmica e fabricação de cimento, entre outras, por conta de seu alto poder calorífico. Também pode ser utilizado como matéria-prima na produção de produtos químicos e fertilizantes, além de ser fonte de energia para as termoelétricas nacionais, o que aumenta a resiliência do sistema brasileiro em momentos de pico de consumo.
Apesar do GNL ter um potencial de sustentabilidade maior em comparação aos combustíveis fósseis, o poder público e o setor industrial ainda precisam se preparar para absorver a nova demanda. A iniciativa do Governo vem em boa hora e segue uma tendência global. Porém, por ser um mercado recém-aberto para novos players no Brasil, os desafios em termos de infraestrutura para escoamento, transporte e distribuição para o interior do país ainda precisam ser superados. Somam-se à conta a falta de incentivos públicos suficientes, as preocupações ambientais relacionadas à produção e à volatilidade dos preços do gás natural. Tudo isso precisa estar bem equacionado nos planos estratégicos das empresas antes de estas partirem para seus investimentos.
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É válido, portanto, chamar a atenção para alguns pontos necessários para a evolução do mercado de gás natural junto às indústrias brasileiras:
- Novas políticas públicas de incentivo para adaptações de infraestrutura;
- Desenvolvimento de regulamentação para transporte e armazenamento;
- Diminuir custos para escoamento, processamento e transporte do combustível;
- Definição clara de metas e objetivos a serem alcançados;
- Revisão de processos internos, visando aumentar produtividade e eficiência.
A chave para a evolução do mercado de GNL está na superação dessas questões geopolíticas, sociais, econômicas e de governança. Para isso, é fundamental uma abordagem integrada e colaborativa por parte de governos, empresas e sociedade civil. Para além do fato de os benefícios embarcados nessa mudança serem incontáveis, essa movimentação poderá guiar os próximos passos rumo à descarbonização da indústria.
*André Chaves é vice-presidente de Indústria de Base e Bens de Capital da Falconi e Gustavo Peluso é diretor de Indústria de Base e Bens de Capital da Falconi.