Grandes planos e projetos enchem os olhos de qualquer empresário. Mas o caminho a ser trilhado entre a intenção e o alcance da meta exige planejamento. Muito planejamento. A ausência de processos bem institucionalizados e a negligência com campos básicos da gestão, como definição de indicadores e acompanhamento de resultados, serão obstáculos para alcançar os objetivos.
Antes do pontapé inicial para a execução de qualquer planejamento, há que se voltar ao simples e elementar. A casa está organizada? Os processos estão otimizados? Existe engajamento e alinhamento em toda a empresa para o alcance de um objetivo comum? Tenha sempre em mente que, se não houver o básico, o extraordinário não acontecerá.
<< Leia mais: Supply chain espera maior previsibilidade em 2024 >>
Mesmo em ambientes macroeconômicos favoráveis, organizações que não se atentam à lição de casa ficam vulneráveis. Por outro lado, em um cenário desafiador, apenas empresas suficientemente maduras no campo da gestão é que podem sobreviver.
Estudo conclui que companhias de capital aberto estão com dificuldades para cobrir despesas financeiras
Empresas de capital aberto, com livre acesso ao mercado acionário, estão mais preparadas financeiramente para enfrentar as turbulências da economia, certo? Não. Nem sempre é assim. Um estudo do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe) destaca que o número de empresas com papeis negociados em bolsa que não conseguem cobrir as suas despesas é grande.
Os números divulgados pelo jornal Valor Econômico mostram que 27% dessas companhias têm geração de lucro inferior às suas dívidas a vencer nos próximos meses. É o maior patamar da série histórica da pesquisa iniciada no primeiro trimestre de 2019. Naquele ano, 11,6% das empresas não conseguiam cobrir as despesas financeiras com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).
<< Veja também: O caminho para a energia verde no Brasil >>
A deterioração da saúde financeira das empresas contrasta com o cenário de queda da taxa básica de juros, a Selic, que deve chegar a 9% este ano, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. Ou seja, mesmo com juros mais baixos, o efeito não deve ser capaz de aliviar as finanças das empresas. Isso porque o custo financeiro ainda não caiu, e as vendas não alcançaram um patamar suficiente para a geração de caixa.
O estudo do Cemec-Fipe ainda mostra que, depois de atingir o pico de 23% no quarto trimestre de 2021, a taxa de crescimento das despesas financeiras variou apenas 0,1% nos 12 meses terminados no terceiro trimestre de 2023. Já a queda da geração de caixa passou de -5,2% para -1,7%, comparando o primeiro e o terceiro trimestre do ano passado. Com isso, o índice de cobertura de despesas financeiras praticamente parou de cair e ficou gravitando em torno de 1,8 no acumulado em 12 meses até o segundo e o terceiro trimestres de 2023.
<<Leia também: Mudanças climáticas e armazenagem: os desafios do agro em 2024 >>
Os problemas diante de tais desafios devem ser vistos de forma estratégica para que, apesar dos possíveis percalços, as empresas tomem decisões assertivas. Maturidade gerencial, neste momento, é o que trará segurança diante das adversidades. Um reflexo da dificuldade das pessoas jurídicas atualmente no Brasil é a inadimplência. O índice, segundo o Cemec, se manteve em alta, em 3,58% no último mês de novembro, mais que o dobro do visto no fim de 2020, quando estava em 1,45%.
*André Chaves é VP da Unidade de Negócios para Indústria de Base e Bens de Capital