dez . 2024 .

A beleza de ter um eterno aprendiz… no C-level

Executivos precisam olhar para suas carreiras não só pela perspectiva de quem lidera e ensina, mas também a de quem tem de aprender todos os dias

Suzane Veloso*

A beleza de ter um eterno aprendiz… no C-level



Dias atrás, participando do Web Summit em Lisboa, eu me vi conversando com o presidente da Bell Labs, a empresa de pesquisa e desenvolvimento da Nokia, sobre como a mesmíssima tecnologia dos nossos celulares vai estar, daqui a pouco, integrando o sistema de telecomunicações da Lua.

Não tivesse eu ido, como ele, assistir a uma palestra sobre wearables (roupas e acessórios com tecnologia conectada), dificilmente teria conhecido Thierry Klein no intervalo do cafezinho. Tampouco teria me engajado em uma conversa sobre economia espacial – um mercado que movimentou US$ 630 bilhões no ano passado e que deve quase triplicar até 2040. Afinal, nem um, nem outro têm qualquer conexão com o meu trabalho no dia a dia.

Mas conhecer pessoas e conversar sobre temas completamente fora da nossa caixinha servem para chacoalhar o cérebro e nos fazer ver o mundo por outras perspectivas. Inclusive a do espaço, que, faz tempo, deixou de ser assunto de ficção científica futurista para se tornar um presente cada vez mais concreto. E não é só a economia espacial a acelerar em velocidade exponencial: quase todos os segmentos estão em franca transformação.

Quanto maior a aceleração, mais mudanças surgem em mercados cujas fronteiras são diluídas à medida que novas tecnologias impactam a própria essência dos negócios, derrubando velhas certezas. E se o presente é dinâmico, que dirá o futuro: quem pode, com total convicção, afirmar o que fará parte do seu dia a dia profissional daqui a dez anos – ou mesmo no ano que vem? De certo, apenas o que preconizava uma velha canção do século passado: “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”.

Por exemplo: se você trabalha em uma montadora, trabalha em uma empresa automotiva ou de tecnologia? Olhando pela perspectiva de produto, não resta dúvida que se trata de uma marca de carros. Mas como desconsiderar que ela também opera como marca de tecnologia, já que investe fortemente em frentes como robótica, inteligência artificial e soluções de energia renovável?

Da mesma forma, os executivos do C-level precisam olhar para suas carreiras e o seu dia a dia não só pela perspectiva de quem lidera e ensina, mas também a de quem tem que aprender (e muito) todos os dias. Como mostrou recentemente um levantamento da Falconi quanto ao perfil dos CEOs, cada vez mais eles abraçam o lifelong learning formal: um terço dos líderes das empresas que compõem o índice B3 Ibovespa participam de programas de Educação Executiva – como, por exemplo, o Harvard OPM.

Mas não se trata apenas de aprender por meio de cursos formais, ao lado de líderes de outras empresas. Também é preciso ir aonde o povo está – em feiras, seminários e festivais – e aprender pela mesma perspectiva da plateia. Ou seja, ouvindo um CEO badalado ou o pitch de poucos minutos de um garoto tropeçando nas palavras na ânsia de mostrar a abrangência de sua ideia inovadora. Aprender até em uma conversa trivial no intervalo do café: talvez surja ali um insight que dificilmente surgiria em uma reunião de diretoria.

Curiosamente, porém, muitos executivos de alto escalão que conheço só vão a esses eventos na condição de palestrantes. Sobem ao palco e, meia hora depois, já voltam à sua rotina. Desperdiçam, assim, a chance não só de conhecer coisas novas, que podem disruptar o seu negócio, mas de entrar em contato com novas formas de pensar. Às vezes, o coadjuvante no fundo do cenário tem visão mais ampla sobre o que acontece no palco e na plateia do que o próprio protagonista.

Certo estava o Thierry, que, na véspera da sua palestra sobre economia espacial, foi assistir ao CEO da Oura falar sobre wearables e seu impacto na gestão da saúde. Na plateia também estava sentado ao meu lado o Murilo Jovtei, diretor de Omnicanalidade da Arezzo. O que um anel que coleta indicadores de saúde tem a ver com o dia a dia deles, na indústria de telecomunicação ou de calçados? Hoje, talvez nada. Daqui a pouco, talvez muito. Ou bem pouco. Mas faz pensar…

A beleza do nosso tempo está nas surpreendentes maneiras como a inovação derruba fronteiras e redesenha negócios. Um tempo em que, cada vez mais, somos todos “trabalhadores do conhecimento” e, mais importante do que “o quê” aprender, é preciso ter o hábito de estar aprendendo sempre. Melhor, então, aprender hoje sobre o que o futuro pode vir a ser, do que deixar para descobrir amanhã sobre o que mudou e já está muito à frente.

* Suzane Veloso é vice-presidente de Marketing da Falconi.

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