Por meses, você tem trabalhado em um projeto para desenvolver ou testar uma nova tecnologia que pode melhorar a operação da sua equipe na linha de produção. Você está em constante interação com a equipe de testes em uma fábrica lighthouse, escolhida especificamente por seu apoio à liderança, expertise e atitude positiva em relação à transformação digital na manufatura.
Os resultados são promissores e o feedback da equipe de linha de frente é excelente. Agora, é hora de escalar. Quão rapidamente podemos implementar efetivamente a tecnologia em todas as linhas e instalações, desbloqueando todo o potencial demonstrado pelo piloto? Abordar essa questão é crucial para a liderança da indústria, pois a implantação da tecnologia é uma prioridade para ajudar a superar alguns dos desafios enfrentados pelo setor: escassez de mão de obra, altos custos de materiais e inflação, baixa produtividade, entre outros.
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Segundo o levantamento Investimentos na Indústria 2023-2024, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 79% das grandes empresas do setor realizaram investimentos no ano passado e há uma evolução no número dos que planejam investir no próximo ano. Além disso, 77% dessas companhias adquiriram máquinas e equipamentos em 2023. O levantamento ainda ressalta que 74% das grandes organizações que investiram no último ano tiveram como objetivo a inovação tecnológica. Vale ressaltar que, em outra pesquisa, a Indicadores Industriais, divulgada em abril de 2024, o faturamento real da indústria de transformação teve alta de 2,4% de janeiro para fevereiro.
Vários elementos impactam uma implementação eficaz e rápida da tecnologia, variando desde restrições orçamentárias e infraestrutura até suporte técnico. No entanto, um elemento que muitas vezes é esquecido é o próprio usuário, a equipe de linha de frente e como serão orientados a adotar novas formas de trabalho. Nem todos estão ansiosos para mudar a forma como fazem as coisas (na verdade, a maioria de nós não é grande fã de mudanças), especialmente quando isso é imposto.
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Novas tecnologias no setor de manufatura
Os adultos mais velhos tendem a ser mais lentos na adoção de novas tecnologias, uma tendência corroborada por vários estudos. Isso não é etarismo, pois existem vários fatores que explicam isso: quanto mais velhos somos, mais acostumados estamos a fazer as coisas de uma certa maneira; menos exposição a alguma tecnologia do que nos anos mais jovens e, consequentemente, falta de conhecimento sobre como usá-la e seus benefícios.
A análise do CNI ainda apontou que, em 2023, 58% dos investimentos das grandes empresas do setor foram voltados para o desenvolvimento de capital humano. Uma nota de pesquisa literária publicada pelo MIT AGELAB apontou que múltiplos fatores afetam a adoção da tecnologia, e a relevância de cada fator varia para diferentes grupos sociais. De acordo com os estudos, os adultos mais velhos têm mais probabilidade de adotar a tecnologia quando percebem sua utilidade e benefício potencial, em vez de apenas por novidade, como os indivíduos mais jovens. Dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de 2023 mostraram que o número de trabalhadores acima dos 50 anos no Brasil aumentou 110,6% nos últimos 15 anos, chegando a 9,3 milhões de pessoas.
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A modernização dos empregos na manufatura os tornará mais atraentes para as gerações mais jovens, o que exige velocidade. No entanto, precisamos impulsionar a adoção através de grupos sociais muito diferentes, o que exige cautela. Então, como podemos lidar com esse processo?
Benefícios da tecnologia no setor de manufatura
Alguns pontos importantes para ter em mente, supondo que o piloto já tenha provado as vantagens:
- Construa a infraestrutura correta: colocar as coisas básicas em prática permitirá que a tecnologia seja usada com segurança. Isso inclui Wi-Fi de alta velocidade, estações de carregamento para dispositivos móveis, áreas seguras para acessar os dispositivos e poder de computação para processar rapidamente uma grande quantidade de dados.
- Garanta excelente usabilidade da tecnologia: a resistência à mudança é natural, e as pessoas procuram todo tipo de desculpas para evitá-la, especialmente se não gostam da aparência das telas ou do tempo de resposta para trocar de páginas e atualizar informações.
- Garanta o apoio da liderança local: o apoio corporativo é benéfico, mas é o apoio da liderança local que realmente impulsiona o progresso durante esse tipo de implementação. Ter a liderança da planta comunicando diretamente à equipe sobre o porquê isso é importante e quais são os benefícios ajudará a ilustrar melhor o impacto da tecnologia em suas vidas.
- Construa campeões locais: comece com linhas e áreas piloto, mesmo que você já tenha testado a tecnologia em outros locais. Essa mentalidade de piloto mostrará à equipe local que eles estão contribuindo para o desenvolvimento da tecnologia, o que é verdade, pois você provavelmente descobrirá outras oportunidades de melhoria. Isso também ajudará você a construir campeões locais, indivíduos que têm experiência com tecnologia e podem defendê-la entre seus pares.
- Seja intencional sobre treinamento e suporte: desenvolva materiais de treinamento facilmente acessíveis e use vários métodos para transferir conhecimento (ler, assistir, tentar). Além disso, defina pontos de contato para apoiar perguntas e crie comunidades de prática, onde pessoas de grupos sociais semelhantes podem interagir e compartilhar suas experiências.
Ao adotar algumas dessas práticas, você aumentará suas chances de sucesso neste processo. No entanto, provavelmente ainda ouviremos coisas como “por que se incomodar, vou me aposentar em dois anos” ou “prefiro registrar a configuração da máquina no papel porque é mais fácil para mim”. Quando isso ocorre, é importante adotar uma abordagem centrada no ser humano e exercer empatia.
Investir em conversas que exploram os benefícios para o grupo tende a ser muito eficaz. Assim como não gostamos de mudanças, não gostamos de sentir que estamos afetando o desempenho do grupo, e ser um bom jogador no time é sempre um bom motivo para mudar.
* Gabriel Rodrigues é sócio da Falconi e diretor da Falconi US
