O mercado de veículos elétricos no Brasil atingiu um marco histórico em 2024, com mais de 170 mil unidades comercializadas. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram emplacados 177.358 veículos leves eletrificados ao longo do ano no país, um crescimento de 89% em relação a 2023. O levantamento inclui automóveis híbridos com recarga externa (PHEV), híbridos convencionais (HEV e MHEV) e 100% elétricos (BEV).
A forte expansão da mobilidade sustentável no Brasil é comprovada numericamente. Em 2018, a frota nacional contava com cerca de 40 mil veículos elétricos. No ano passado, esse número ultrapassou os 300 mil. O avanço, contudo, impõe desafios ao setor automotivo. Diante da demanda, as montadoras precisam ampliar sua oferta de modelos, desenvolver novos serviços e criar produtos específicos para esse tipo de veículo, além de expandir a infraestrutura de recarga nas cidades e rodovias.
Entre os principais desafios também está a adaptação da cadeia de suprimentos. As empresas do setor terão de investir em novas tecnologias, modernizar fábricas e reestruturar suas redes de fornecedores para atender à crescente demanda por veículos elétricos. Além disso, o desenvolvimento de soluções para a reciclagem de baterias torna-se essencial para minimizar impactos ambientais e garantir um ciclo sustentável para os componentes de lítio.
A infraestrutura de carregamento precisa acompanhar esse crescimento. Empresas e concessionárias enfrentam altos custos para a instalação de estações de recarga, tanto em áreas urbanas quanto em rodovias. Paralelamente, a popularização dos veículos elétricos exige que concessionárias de energia invistam na modernização das redes elétricas para evitar sobrecargas e garantir a estabilidade do fornecimento.
Outro ponto crítico é a mudança no modelo de negócios das concessionárias de veículos. Tradicionalmente, essas empresas lucram com serviços pós-venda, como troca de óleo e manutenção mecânica, mas os veículos elétricos demandam menos revisões e apresentam menor desgaste de componentes. Isso força o setor a repensar suas estratégias para manter a rentabilidade.
A regulamentação ambiental também exerce forte influência na expansão dos carros elétricos. Governos impõem metas de redução de emissões que incentivam a adoção desses veículos, ao mesmo tempo em que pressionam as empresas a cumprirem prazos rigorosos para a transição tecnológica. A adaptação ao novo cenário exige investimentos expressivos para garantir competitividade.
Todas essas questões apontam para a necessidade de os carros elétricos serem economicamente viáveis para que o crescimento visto até aqui seja sustentável. A sustentabilidade, porém, não deve estar apenas no campo ambiental, mas também no dos negócios. Do impacto à produção e à toda cadeia de suprimentos do setor, ao estilo de vida dos indivíduos e à infraestrutura nas cidades e rodovias, todas as camadas da sociedade nas esferas pública e privada devem estar prontas para a realidade que está se formando diante dos olhos de todos.
Por isso, uma condução estratégica deste assunto pelos governos e pelas empresas é tão necessária para a adequação às exigências do mercado e tendências globais. Essa gestão deve estar focada em resultados e em eficiência, para que o caminho seja abreviado. Uma gestão robusta é o que trará maior assertividade às tomadas de decisão e ampla capacidade de inovação em tecnologia e produção. O que se espera com isso é um escopo regulatório coerente e um ambiente de negócios mais fluido, gerando melhor qualidade de vida e ofertas de produtos e serviços cada vez mais sustentáveis.
Da mesma forma, uma frota elétrica é um incentivo a cidades cada vez mais inteligentes. Os gestores públicos, por sua vez, precisam estar atentos para gerir com responsabilidade os dados da segurança no trânsito, das emissões de poluentes, das demandas energéticas, de infraestrutura, entre tantos outros requisitos. É preciso colher e analisar essas informações para chegar a planejamentos realmente eficazes para melhorias na dinâmica da mobilidade urbana.
Nessa jornada, a integração entre os setores público e privado dá velocidade às ações e à criação de estratégias, iniciativas e de políticas que tragam incentivos e que pavimentem solidamente a trajetória ascendente da economia verde no país.
* Vinicius Brum é vice-presidente da unidade de negócios da Falconi especializada em Serviços Públicos