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Como o ESG é capaz de melhorar o valuation das empresas?

Se a preservação do futuro - da empresa, da sociedade, do planeta - não forem motivos fortes o suficiente, outra visão sobre o assunto pode ajudar: valuation.

Como o ESG é capaz de melhorar o valuation das empresas?



Já se foi o tempo em que sustentabilidade era vista como fonte de despesas para as organizações, ou, na melhor das hipóteses, como fonte de ganhos apenas reputacionais. Por algum tempo também se acreditou que empresas que investiam em sustentabilidade estavam fazendo-o por ideologia ou para diferenciarem-se em um nicho de mercado, que contava com uma parcela ainda pequena de consumidores engajados e preocupados com o futuro do planeta. Esse cenário rapidamente se modificou na última década.

A mudança de entendimento e visão sobre a sustentabilidade nas organizações veio para transformar custo em ganho, nicho de mercado em posicionamento global, sustentabilidade e responsabilidade social (que por alguns anos foram departamentos/gerências mantidas à parte do núcleo mais estratégico de gestão das empresas) em uma estratégia ESG – Environmental, Social and Governance (ambiental, social e de governança). E quando se abriu a janela do ESG para as organizações, perceberam que a vista era para um novo mundo – e para um novo tipo de mercado investidor.

O termo ESG refere-se a um conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança que, quando integradas e enraizadas, desde a estratégia até a operação das organizações, atuam nas necessidades futuras, riscos e oportunidades, tanto das próprias organizações quanto do meio ambiente e da sociedade, visando a geração de valor compartilhado e orientado para a prosperidade.  

Aos poucos, esse novo mercado investidor começou a integrar a agenda ESG das organizações na sua pauta de investimentos. De forma mais pragmática do que idealista, investidores perceberam que as práticas ESG geram valor às organizações.

A análise da agenda ESG é capaz de determinar como a organização se posiciona em relação aos seus temas materiais, temas esses prioritários à prosperidade da organização, como também ao meio ambiente e à sociedade em que atua. 

Uma organização com práticas robustas e bem estabelecidas em ESG é mais eficiente, responsável e sustentável no uso dos recursos naturais, no desenvolvimento do capital humano e na gestão da inovação. Isso faz com que ela se mantenha lucrativa e competitiva no longo prazo. Se essa organização possui um propósito conectado aos impactos que ela gera – buscando o máximo de impactos positivos e minimizando os negativos – e a uma operação mais sustentável, ela atrai mais clientes e talentos, ampliando tanto seu mercado consumidor quanto o time interno que a levará a um crescimento contínuo.Essa é uma organização que também envolve e desenvolve seus diferentes stakeholders, compartilhando, potencializando e somando valor a diferentes partes. É, portanto, uma empresa com grande potencial de geração de valor compartilhado, o que apoia no desenvolvimento de fornecedores e comunidades locais. Somado a isso, organizações com uma forte agenda ESG gere também sistemicamente seus riscos corporativos e operacionais de impacto financeiro a socioambiental. Dessa forma, o potencial de geração de fluxo de caixa no longo prazo aliado à uma robusta gestão de riscos e oportunidades traz à organização mais recursos para seus investimentos e maior facilidade em financiamentos, o que possibilita expansões e inovações do seu negócio. Assim, gera mais resultados e impactos positivos de curto a longo prazo.

O interesse crescente por Fundos e Títulos Verdes é a concretização desse processo. Os fundos de investimentos sustentáveis reúnem ações de empresas que utilizam na sua estratégia os critérios ESG. Eles têm apresentado cada vez mais retorno aos investidores. Já os Títulos Verdes são títulos de renda fixa utilizados na captação de recursos para financiar projetos sustentáveis das organizações.

Pesquisas e estudos vêm demonstrando cada vez mais claramente como práticas ligadas a ESG levam a resultados melhores e, por consequência, as ações de empresas sustentáveis tendem a superar em valorização as empresas com o mesmo perfil, porém com estratégia pobre em aspectos ESG. A elaboração de um sistema de compliance na empresa é um exemplo de prática de governança aplicada ao negócio que os investidores têm percebido como estratégia fundamental, pois mostra uma preocupação do negócio com a saúde fiscal e financeira da organização, além de ação contra a corrupção e o suborno. Práticas ligadas à afirmação da diversidade e da equidade de gênero, especialmente nos cargos de liderança das organizações, também surtem efeito nos resultados operacionais e, consequentemente, no valuation das empresas. Uma pesquisa da Credit Suisse, publicada em 2020 na Forbes, evidencia que empresas com uma ou mais mulheres nos conselhos têm melhores níveis de inovação e resultados financeiros que empresas de perfil semelhante compostas por somente homens no conselho.

Globalmente, já se alcançou USD 30 trilhões em investimento sustentável – um aumento de 68% desde 2014 e dez vezes mais desde 2004.¹ 

Um artigo publicado no The Journal of Management Portfolio², da MSCI, analisou, pela perspectiva do investidor, as influências da incorporação de aspectos ESG nas organizações.

O artigo destaca três principais objetivos do investimento realizado em ESG: 1. Integração ESG – com o objetivo de melhorar as características de retorno do portfólio; 2. Investimento baseado em valores – procura alinhar o portfólio a crenças e ideais próprios; 3. Investimento no impacto – capital usado para acelerar mudanças sociais ou ambientais como, por exemplo, a descarbonização da economia.

O artigo foca no primeiro objetivo citado: ESG como um meio de atingir resultados financeiros superiores na gestão do portfólio do investidor, e analisa três caminhos para isso acontecer:

 

  1. Perfil ESG forte Mais competitiva Mais lucrativa Mais dividendos

Organizações com perfil forte em ESG são mais competitivas do que seus pares. A vantagem competitiva pode ser devida a um uso eficiente de recursos, ao melhor desenvolvimento do capital humano, ou melhor gestão da inovação. As empresas mais bem avaliadas pelo seu ESG normalmente desenvolvem bons planos de negócios de longo prazo e planos de incentivos para a alta gestão. As vantagens competitivas geram um bom retorno de investimento, o que leva à maior lucratividade. Maior lucratividade resulta em mais dividendos.

É importante frisar que investidores focados em sustentabilidade, em geral, têm um horizonte de investimento de longo prazo. Em uma performance de longo prazo, a contribuição dos dividendos para o retorno dos investimentos foi maior à medida que o horizonte de tempo aumentou.

 

  1. Perfil ESG forte Melhor gestão de riscos Menor risco de incidentes graves Menor tail risk (risco de cauda)

Organizações com perfil forte em ESG tipicamente apresentam controle de risco e padrões de compliance acima da média. Por terem melhores padrões de controle de risco, essas empresas sofrem menos incidentes como fraudes, desfalques, corrupção ou casos litigiosos que podem impactar seriamente o valor da companhia e, consequentemente, o preço das ações.

Quando incidentes que levam a riscos são menos frequentes, a companhia apresenta menos quedas bruscas de ações por eventos específicos e imprevistos (tail risk). Foi observado em pesquisas que as companhias mais bem avaliadas em ESG demonstraram estatisticamente menores taxas de risco de quedas de ações como volatilidade, momentos de baixas parciais e perdas pelos piores cenários.

É importante observar que a gestão de uma empresa precisa estar de acordo com o nível de exposição ao risco que ela enfrenta. Uma empresa com grau elevado de risco associado a fatores ESG deve ter uma gestão de riscos robusta e pró-ativa, enquanto a empresa que tem uma exposição limitada pode ter uma gestão mais modesta.

 

  1. Perfil ESG forte Menor risco sistemático Menor custo de capital Maior valuation

Organizações com perfil forte em ESG estão menos vulneráveis a choques de mercado sistemáticos. Logo, demonstram menor risco sistemático. Por exemplo, empresas com maior eficiência energética ou redução do consumo de recursos/commodities estão menos vulneráveis a mudanças nos preços de energia ou de commodities. Dessa forma, a valorização das suas ações tende a demonstrar menor risco sistemático de mercado. Isso se traduz em menor custo de capital para a empresa. E o menor custo de capital leva diretamente a um valuation maior.

Por outro lado, empresas com perfil pouco voltado para aspectos ESG têm uma base de investidores relativamente menor, por causa de dois efeitos: 1. Preferências do investidor, seja por aversão ao risco, ou por serem socialmente conscientes e evitarem exposição a empresas com baixo ESG; 2. Assimetria da informação, já que empresas pouco voltadas a ESG não são tão transparentes com seus stakeholders (incluindo os investidores), em particular no que diz respeito à sua exposição ao risco, à gestão do risco e aos padrões de governança.

Apesar do impacto do ESG na base de investimentos e no valuation de uma empresa ser difícil de medir na prática, existem bons motivos para os grandes investidores se animarem a integrar ESG nos seus portfólios. Consequentemente, espera-se que esse movimento motive as organizações a irem além ao incluir os aspectos ESG nas suas operações, produtos e serviços, na forma de fazer negócios e na divulgação relativa ao ESG para seus stakeholders. A melhoria nos padrões de competitividade, a resiliência ao risco, a gestão mais consciente e transparente são fatores que, certamente, trazem um impacto no valuation da companhia e beneficiam tanto os investidores quanto as próprias empresas. Tudo isso ainda traz benefícios inestimáveis para a sociedade e para o futuro do nosso planeta.

Para a captura desses benefícios inestimáveis é importante as organizações aprimorarem sua agenda em ESG entendendo que será uma Jornada. Será, dessa forma, uma trajetória com ações no curto, médio e longo prazo visando a adequação de metas organizacionais, modelos de negócio, processos, estruturas e políticas para a geração de valor sustentável e compartilhado.

Para organizações que estão iniciando sua jornada agora, o primeiro passo, após a sensibilização da liderança da organização quanto à importância dessa agenda, é a definição das materialidades da organização bem como da situação atual de cada uma delas. A avaliação da maturidade de gestão em ESG faz parte também desse diagnóstico, dado que a Gestão é o principal elo da conexão da estratégia com as áreas nos níveis táticos e operacionais, em suas iniciativas e rotinas. A partir desse diagnóstico, ambições estratégicas ESG deverão ser traçadas e mais importante, implementadas por meio de um roadmap consistente e que envolva as diferentes áreas, níveis e Stakeholders para entregar o valor esperado e garantir a perpetuidade das novas práticas e cultura ESG almejada.

Faça uma avaliação inicial do Termômetro da Gestão em ESG de sua organização. Nesse self assessment, você saberá o nível de maturidade da sua organização em Gestão ESG. Também receberá nossas recomendações sobre como prosseguir em sua jornada de evolução nos aspectos ESG.

¹ Fonte: Global Sustainable Investment Review 2018, Global Sustainable Investment Alliance, 2018, gsi-alliance.org.

² Foundations of ESG Investing: How ESG affects equity valuation, risk and performance, de Guido Giese, Linda-Eling Lee, Dimitris Melas, Zoltán Nagy, and Laura Nishikawa – The Journal of Portfolio Management, Volume 45, number 5.

 

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