Há um entusiasmo global em torno da inteligência artificial (IA), mas a realidade mostra que, no Brasil, a adoção da tecnologia ainda é relativamente pequena. Dados recentes mostram que menos da metade das empresas do país utiliza ou implementa soluções de IA. No caso da IA generativa, apenas 46% das organizações adotaram essa tecnologia, um número inferior à média global de 54% e consideravelmente distante dos líderes mundiais, como China (80%), Reino Unido (70%) e EUA (65%). Esse cenário coloca o Brasil na 11ª posição no ranking global de adoção da IA generativa, segundo um levantamento da SAS em parceria com a empresa de pesquisas Coleman Parkes.
Mas por que estamos tão atrasados na adoção da IA? A resposta envolve uma série de desafios estruturais e culturais. A diferença entre intenção e prática é o primeiro obstáculo significativo. Embora 98% das empresas brasileiras afirmem que estão desenvolvendo ou implementando estratégias de IA, apenas 25% se consideram realmente preparadas para integrar a tecnologia de forma efetiva em suas operações diárias. Muitas ainda estão nos estágios iniciais, seja na fase de planejamento ou em testes piloto, sem conseguir escalar seus projetos.
Outro fator é a disparidade entre expectativa e realidade. De acordo com a Cisco, metade das empresas brasileiras investiu entre 10% e 30% de seu orçamento de TI em IA no último ano, mas 26% dos líderes empresariais relataram que os resultados ficaram aquém do esperado. Esse descompasso gera um efeito de cautela, reduzindo a velocidade de adoção da tecnologia.
Vale ressaltar que a base para uma implantação bem-sucedida de IA ainda está sendo construída no Brasil. Faltam organização de dados, infraestrutura tecnológica, profissionais qualificados e casos de sucesso que sirvam de referência. Ou seja, falta a construção de uma cultura mais estruturada para a adoção da IA. Sem esses elementos, a adoção da tecnologia torna-se fragmentada e ineficaz.
Há também quem cite questões relacionadas à força de trabalho, com cargos e funções sendo remodelados e equipes ainda aprendendo a lidar com novas soluções. Ou ainda as questões éticas e legais, que não estão bem definidas.
Olhando para o futuro, há sinais positivos. Em 2023, 67% das grandes empresas da América Latina aceleraram a adoção de IA, superando a média global de 59%. Esse movimento indica que, apesar dos desafios, a trajetória é de crescimento.
Para que o Brasil avance nesse cenário, é fundamental transformar intenções em execução, investir na capacitação de profissionais e estruturar melhor as bases tecnológicas das empresas. Somente assim será possível fechar essa lacuna e posicionar o país entre os protagonistas da revolução da IA.
*Por Breno Barros, CTO da Falconi, e Leandro Mineti, diretor de Dados e Inteligência Artificial da Falconi