O mercado global está sendo redesenhado por três forças simultâneas: a redefinição das tarifas comerciais, a transformação radical do emprego e o avanço irreversível da inteligência artificial (IA). Mais do que tendências isoladas, esses movimentos se cruzam e exigem respostas estratégicas urgentes e inovadoras.
Em um primeiro aspecto, temos a interseção de tarifas e empregos, onde caminhamos para uma proteção temporária, mas alto custo envolvido. Políticas tarifárias, adotadas especialmente por Estados Unidos e China, buscam proteger indústrias locais e preservar empregos. Essa proteção, embora compreensível no curto prazo, aumenta custos para empresas e consumidores, reduz a competitividade internacional e alimenta tensões geopolíticas.
Ou seja: no longo prazo, ela tende a acelerar a automação, gerando, em termos de empregos, efeito oposto ao desejado. Um exemplo claro foi o aumento das tarifas sobre o aço praticado pelos Estados Unidos em 2018. Foram salvos cerca de 16.000 empregos, mas ao elevado custo de US$ 900 mil por vaga, segundo a U.S. International Trade Commission.
Enquanto todas as atenções centram-se nos conflitos comerciais, a Inteligência Artificial segue silenciosamente transformando o mercado de trabalho. Segundo o relatório The future of jobs, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, até 2028 44% das habilidades profissionais precisarão evoluir significativamente. E até 2027, 83 milhões de empregos poderão ser extintos, enquanto outros 69 milhões deverão ser criados – especialmente nas áreas digitais e tecnológicas.
Essa transição é inevitável, silenciosa e profundamente disruptiva, e as empresas – bem como os profissionais – precisam estar preparados para ela, em uma capacitação permanente, na busca das novas habilidades surgindo. Assim chegamos a um novo imperativo na pauta empresarial, no qual quatro estratégias são essenciais para liderar essa transformação:
- Obsessão por Informação de Qualidade: informações confiáveis e atualizadas de mercado e concorrentes são imprescindíveis. Decisões fundamentadas em intuição ou experiências passadas estão fadadas ao fracasso. Busque as melhores referencias onde elas estiverem.
- Desafiar Continuamente o Status Quo: empresas líderes devem repensar continuamente suas ofertas, como entregá-las e seus modelos de negócio, testando novos conceitos e tecnologias emergentes. Resistir à mudança é aceitar a obsolescência.
- Alta Performance com Eficiência: fazer mais com menos nunca foi tão essencial. Empresas de alta performance, segundo estudo da Falconi, chegam a ser duas vezes mais lucrativas e velozes que seus concorrentes.
- Investir em Talentos Excepcionais: apesar da importância da tecnologia, o fator humano permanece insubstituível. Como defende Jim Collins em ‘Empresas feitas para Vencer’: “Primeiro quem, depois o quê”. A atração e retenção de talentos diferenciados são o maior diferencial competitivo de longo prazo.
A conclusão inevitável é a de que o futuro pertence a quem age agora. Tentação imediatista, o protecionismo tem eficácia limitada e a custos elevados. Portanto, o protagonismo de amanhã será de quem se antecipar, inovar continuamente, adotar tecnologias disruptivas e, sobretudo, investir em capital humano qualificado. Ou seja: o futuro será construído por aqueles que liderarem ativamente a transformação, não por quem irá esperar por ela para depois agir.
* Bernardo Miranda é Sócio Sênior e responsável pela administração da Falconi na América do Norte, liderando o escritório de Chicago, Illinois, desde 2022